Judeus São Uma Raça, Genes Revelam
Os geneticistas estão há muito tempo conscientes de que certas doenças, do câncer do seio até o Tay-Sachs*, desproporcionalmente afetam os judeus. Ostrer, que também é diretor de exames genéticos e genômicos no Centro Médico Montefiore, vai mais longe sustentando que os judeus são um grupo homogêneo com todas as características científicas do que costumamos chamar de raça.
Por quase 3.000 anos de história do povo judeu, a noção do que veio a ser conhecido como “excepcionalismo judeu” foi muito controverso. Por causa da história dos judeus de casamentos intragrupo e isolamento cultural, imposto ou adotado, os judeus foram considerados pelos "gentios" como uma raça. Estudiosos de Josephus até Disraeli orgulhosamente proclamavam pertencer “à tribo”.
Ostrer explica como este conceito assumiu significado especial no século XX, quando a genética emergiu como um empreendimento científico viável. A distinção judaica pode na verdade ser medida empiricamente. Em Legado, ele primeiro nos introduz a Maurice Fishberg, um imigrante judeu russo mudando-se para Nova York no fin de siècle. Fishberg abraçou fervorosamente a moda antropológica da época, medindo tamanhos de crânios para explicar por que os judeus pareciam ser atingidos por mais doenças do que outros grupos – o que ele chamou de “peculiaridades da patologia comparada dos judeus.”
Ostrer divide seu livro em seis capítulos representando os vários aspectos do judaísmo: Parecendo judeu, Fundadores, Genealogias, Tribos, Tratamentos e Identidade. Cada capítulo apresenta um cientista proeminente ou figura histórica que avançou dramaticamente nossa compreensão do judaísmo.
Para alguns judeus celebrar a ancestralidade sangüinea traz a discórdia, eles afirmam: os autores de “A Curva Bell” foram difamados 15 anos atrás por sugerir que os genes têm um papel importante nas diferenças de QI entre grupos raciais.
Ostrer escreve que não podemos ignorar a realidade fatual do que ele chama de “a base biológica do judaísmo” e “genética judaica”. Mesmo percebendo que a distinção de judeus é “carregada de perigo”, devemos atacar a evidência dura das diferenças humanas se procuramos entender a nova era da genética.
Apesar de reconhecer o papel formador da cultura e do ambiente, Ostrer acredita que a identidade judaica tem múltiplas origens, incluindo o DNA. Ele oferece uma lista de evidências cientificamente convincentes, que servem de como um modelo de controle científico.
“Por um lado, o estudo da genética judia pode ser visto como um esforço elitista, promovendo uma certa visão genética de superioridade judaica,” escreve ele. “Por outro, ele pode fornecer alimento para o antissemitismo ao apoiar evidência de uma base genética para características indesejáveis que estão presentes entre alguns judeus. Estes assuntos desafiarão a visão liberal de que os humanos são criados iguais, mas com obrigações genéticas.”
Os judeus, ele nota, são um dos mais distintos grupos populacionais no mundo por causa de nossa história de endogamia (casamento dentro do próprio grupo social de um indivíduo). Judeus – os asquenaze em particular – são relativamente homogêneos apesar deles estarem espalhados por toda a Europa e ter imigrado desde então para o continente americano e de volta para Israel. A Inquisição dispersou a judiaria sefardista, levando a mais casos de casamento misturado e a um DNA menos distinto.
Ao atravessar esse campo minado da genética de diferenças humanas, Ostrer sustenta sua analise com volumes de dados genéticos, que são a grande força do livro.
A Lei do Retorno, que estabelece o direito dos judeus de ir para Israel, é um tema central do Sionismo e um princípio legal fundador do Estado de Israel. O DNA que une firmemente os asquenaze, sefardista e mizrahi, três grupos judaicos proeminentes cultural e geograficamente, poderia ser usado para apoiar as exigências territoriais sionistas – exceto, como Ostrer nota, alguns dos mesmos marcadores que podem ser encontrados nos palestinos, nossos primos genéticos distantes. Os palestinos, compreensivelmente, querem seu próprio direito de retorno.
A maioria da população judaica asquenaze, como Koestler, e agora Sand, escreve, não são filhos de Abraão, mas descendentes de europeus orientais pagãos e euroasiáticos, concentrados principalmente no antigo Reino de Kazaria, no que é hoje a Ucrânia e a Rússia Ocidental. A nobreza kazariana converteu-se durante o início da Idade Média, quando a judiaria européia estava se formando.
Apesar de eruditos terem desafiado a manipulação seletiva dos fatos de Koestler e agora de Sand – a conversão foi quase certamente limitada a uma pequena classe dominante e não a uma vasta população pagã – o registro histórico é suficientemente fragmentário para estimular determinados críticos de Israel, que transformaram os livros de Koestler e de Sand em sucessos editoriais estrondosos.
Felizmente, recriar história agora depende não somente de restos de cerâmica, manuscritos fragmentados e moedas desgastadas, mas de algo muito menos ambíguo: DNA. O livro de Ostrer é um impressionante contraponto à duvidosa metodolia histórica de Sand e seus admiradores. E, como co-fundador do HapMap judeu – o estudo de haplótipo**, ou blocos de marcadores genéticos, que são comuns aos judeus ao redor do mundo – ele é bem posicionado para escrever a resposta definitiva.
O DNA garante que somos diferentes não somente como indivíduos, mas também como grupos.
Apesar das diferenças insignificantes (e os geneticistas agora acreditam que elas são significativamente maiores que 0,1%), elas são cruciais. Aquele 0,1% contém cerca de 3 milhões de pares nucleotídeos no genoma humano e estes determinam tais coisas como a cor da pele ou do cabelo e a suscetibilidade para certas doenças. Elas contêm o mapa de nossa arvore genealógica.
Ostrer tem dedicado sua carreira para investigar estas árvores genealógicas estendidas, que ajudam a explicar a base genética de desordens comuns e raras. Hoje, os judeus permanecem identificáveis em grande medida pelas cerca de 40 doenças que eles carregam desproporcionalmente, a consequência inevitável do acasalamento interno. Ele rastreia a história fascinante de numerosas “doenças judaicas”, tais como a Tay-Sachs, Gaucher, Niemann-Pick, Mucolipidiose IV, assim como o câncer do seio e do ovário. De fato, 10 anos atrás, eu fui diagnosticada com três mutações genéticas de câncer do seio e do ovário que marcam minha família e eu como indelevelmente judeus, permitindo-me escrever “Filhos de Abraão”.
Como os asiáticos do extremo oriente, Amish***, islandeses, aborígenes, povo basco, tribos africanas e outros grupos, os judeus permaneceram isolados por séculos por causa da geografia, religião ou práticas culturais. Está marcado em nosso DNA. Como Ostrer explica em detalhes fascinantes, linhas de ancestralidade judaica conectam as comunidades judaicas da América do Norte e da Europa com os Iemenitas e outros judeus do Oriente Médio que foram relocados para Israel, assim como com os negros Lemba da África setentrional e com os judeus cochin da Índia. Mas, por outro lado, a ligação não inclui nem os Bene Israel+ nem os judeus etíopes. Testes genéticos mostram que ambos os grupos são convertidos, contradizendo seus mitos fundadores.
Por que, então, os judeus não são tão diferentes na aparência, geralmente compartilhando traços das populações vizinhas? Pense nos judeus ruivos, judeus com olhos azuis ou os judeus negros da África. Como qualquer grupo – um termo genético que Ostrer usa no lugar de raça – os judeus através da história se deslocaram e se infiltraram, apesar da mistura ocorrendo comparativamente com pouca frequência até as últimas décadas. Apesar disso, há variações genéticas identificáveis que são comuns entre os judeus, não somos uma raça pura. A máquina do tempo de nossos genes pode mostrar que a maioria dos judeus tem uma ancestralidade compartilhada que data dos antigos palestinos.
Cerca de 80% dos homens judeus e 50% das mulheres judias tem sua ancestralidade no Oriente Médio. O resto entrou no “caldeirão genético judeu” através da conversa ou casamento misto.
Muitos judeus liberais mantêm, pelo menos em público, que a pletora de advogados, médicos e comediantes judeus é o produto de nossa herança cultural, mas a ciência conta uma estória mais complexa. O sucesso judeu é o produto de genes judeus tanto quanto das mamães judias.
É “bom para os judeus” explorar tais assuntos controversos? Não podemos deixar de enfrentar as questões mais desafiadoras na era da genética. Por causa de nossa história de endogamia, os judeus são uma mina de ouro para os geneticistas estudando as diferenças humanas na busca da cura para as doenças.
Fonte
http://forward.com/articles/155742/jews-are-a-race-genes-reveal/?p=all#ixzz2hPe6rzJL
Notas:
* A doença Tay-Sachs possui 5 mutações, pode ser descoberta na gestação e é consequência de uma mutação recessiva, presente apenas quando se herda genes mutados tanto da mãe quanto do pai. Crianças com Tay-Sachs aparentam uma severa deterioração das habilidades mentais e físicas. Uma forma da doença muito mais rara ocorre em pacientes entre 20 e 30 anos e é caracterizada por andar inconstante e deterioração neurológica progressiva.
** Um haplótipo é uma combinação de alelos em loci (local fixo num cromossomo onde está localizado determinado gene ou marcador genético) adjacentes, que fazem parte do mesmo cromossomo e são transmitidos juntos.
*** Amish é um grupo religioso cristão anabatista baseado nos Estados Unidos e Canadá. São conhecidos por seus costumes conservadores, como o uso restrito de equipamentos eletrônicos, inclusive telefones e automóveis. Como os Mennonitas, os Amish são descendentes dos grupos suíços de anabatistas chamados de Reforma radical. O Anabatistas suíços ou "os irmãos suíços" tiveram suas origens com Felix Manz (ca. 1498-1527) e Conrad Grebel (ca.1498-1526). O nome "Mennonita" foi aplicado mais tarde e veio de Menno Simons (1496-1561). Simons era um padre católico holandês que se converteu ao Anabatismo em 1536. O movimento Amish começou com Jacob Amman (c. 1656 - c. 1730), um líder suíço dos Mennonitas que acreditava que estes estavam se afastando dos ensinos de Simons.
+ Os Bene Israel (Filhos de Israel) são um grupo de judeus originários de Mumbai, Kolkata, Déli e Ahmadabad. Hoje, são em torno de 65.000 pessoas no mundo. A sua linguagem nativa é o judeu-marathi, uma variação do Marathi. Os Bene-Israel dizem ser descendentes dos judeus que escaparam da perseguição na Galileia no século II a.C. Os Bene-Israel mantém alguns costumes dos Maratha não-judeus, como roupas, mas mantém ainda práticas judaicas, como a circuncisão, as leis dietéticas e a observação do Shabat.
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