Texto: O Ouvinte (Amizade Entre Homem e Mulher)

outubro 29, 2016 , 0 Comments

O Ouvinte (Amizade Entre Homem e Mulher)


Você começou uma amizade com o sexo oposto. Desconsiderou a regra natural de que machos sentem naturalmente atração por fêmeas. Sua nova amizade era uma fêmea, e bem bonita (afinal você não escolheu a mais feia para ser sua amiga - se era só amizade, por que deveria ser uma bonita e atraente então?).


Mas tudo bem, era gostosa, mas só amizade. Era tudo conversa fiada, dava sim para haver amizade entre você e ela, mesmo que ocasionalmente você a olhasse e tivesse alguma ereção. Você simplesmente negligenciava isso.

Chegou no estágio onde ela procurava suas opiniões - inclusive sobre homens -, pedia seus conselhos, falava com você sobre a vida particular - especialmente as coisas legais que não geralmente não envolviam você, os relacionamentos dela, e os problemas pessoais.

Você conquistou a "confiança" dela. Um prêmio espetacular - afinal quem não quer conquistar a confiança de uma mulher? pouco importa seu corpo sensual.

Você conquistou a atenção e o tempo precioso dela. Aliás, essa preciosidade não era recíproca, já que você gastava tempo pessoalmente, e por internet, telefone, ou até sinais de fumaça se ela precisasse.

Você não só falava, mas agia. Ajudava ela com deveres escolares, deveres do trabalho, problemas pessoais, e era socorrista particular, ajudando-a quando estava "grogue", evitando que ela dirigisse e morresse. Afinal, amigos são pra essas coisas, para se ajudar.

Mas , afinal de contas, por que você fazia tudo isso? você a achava sexy, legal, inteligente, enfim, um monte de qualidades - a maioria na verdade ela nem tinha, foi invenção do seu apaixonamento.

Se ela era tão legal e aberta contigo, se ela confiava tanto em você, e você sentia o mesmo por ela, por que não namorar, transar, engatar um relacionamento sério, já que vocês como amigos, poderiam confiar um no outro e construir algo especial juntos? Afinal, não era uma simples paixão à primeira vista, e sim um relacionamento construído durante longo e considerável tempo.

Certo, então você meio tímido, supera essa timidez (talvez essa sensação não fosse timidez, talvez fosse apenas o Destino lhe avisando para não cometer um erro tão grande do qual você fosse se arrepender, mas por via das dúvidas, você decidiu superar e silenciar isso). Diz a ela seus sentimentos.

E a resposta que você esperava era um sim. Afinal você demonstrou mais de uma vez que se importava com ela, que a queria bem, que estava ali presente para ajudar. Você não iria apena dizer uma frase morta, você iria mostrar com palavras aquilo que durante tanto tempo expressou com gestos e atitudes.

Certo. Você fala a ela o que sente e... um silêncio e um ar constrangedor. Nada de beijos, abraços e carinho, e sexo amoroso, como nas histórias e filmes de amores perfeitos. Não há um ambiente sexual, ou afetivo, e sim um constrangimento, ela por ter ouvido isso, e você por ter dito o que disse.

E a resposta que se segue, não é positiva. É um não, mas é um não doce, cheio de explicações. Não é um simples não que você houve, e sim uma completa humilhação disfarçada de respeito e justificativa.

"Não posso namorar você, você é um cara legal, super gente boa, mas não podemos namorar, a amizade vai estragar".

Você não entende isso. Você fez tudo o que fez para ganhar esse tipo de recompensa? um não?

Mas tudo bem, afinal ela é tão boa e meiga, e gentil e com tanta compaixão, que lhe deu a honra de continuar sendo seu amigo, seu ouvinte passivo.

Então você continua a amizade (e continua tendo ereções, porém mais tristes). E continua ouvindo os relatos dela, de relacionamentos malfadados.

Então tudo muda. Você já não tem tanto interesse pela vida dela, para quem ela deu ou deixou de dar. Antes, tudo que soava interessante, e instigador, soa nojento e pesado, parece que há ar negro, poeira e enxofre no ar, te sufocando.

Você começa a contar os minutos no relógio, para o tempo acabar. Mas não rompe, afinal amizade deve suportar seus altos e baixos.

Pois bem, você continua negligenciando seus instintos e acha que se investir mais um pouco conseguirá algo. E não consegue. Passou um longo tempo ouvindo, resolvendo problemas, ajudando nas demandas dela, e não conseguiu um beijo (talvez aquele encostamento de bocas que você chamou de beijo, isso é um selinho na verdade, que elas dão em amigos gays ou em amigas mulheres, mas não em homens cuja atração sexual delas se aflora), nem tampouco algum sexo selvagem cinematográfico.

Outros, que mal sabiam o nome dela, não precisava fazer um milésimo de seus esforços mitológicos para conseguir sexo, beijos, e além disso, tê-la ao seus pés, rastejando e implorando por mais.

Eles mal se importavam com ela. Era só mais uma refeição. Mas ela não negava se relacionar com eles e nem manter relações sexuais, coisas que um amigo tão especial e gentil quanto você, jamais teve o prazer de ter.

Então você decide romper de uma vez por todas. Você tinha negligenciado seus instintos. Sim, desde o começo, os sinais foram claros.

Quando você olhava para os seios e glúteos dela, e ficava com ereções, eram seus instintos lhe dizendo "ela é uma fêmea, faça sexo com ela".

Quando você estava tímido em estreitar laços de amizade, não era timidez, e sim seus instintos lhe dizendo "Ei, isso vai estragar todo o propósito de ter sexo com ela".

Mas agora as vozes do macho primitivo ecoam dentro de você e você rompe com tudo, finaliza uma amizade falsa, onde só você era o "amigo" - leia-se aqui, serviçal assexuado -, uma amizade que nunca deveria ter começado.

Você percebe que amizade entre homem e mulher não é algo existente e não tem utilidade alguma, já que você é apenas um ouvinte.

Você descobre a verdadeira amizade: amigos homens. Eles te ajudavam nos seus problemas, eles se importavam contigo. Não amizades melosas, brutas até, mas sinceras. Eles são seus camaradas, e não elas.

Seus camaradas, que não tem seios nem te fazem ter ereções nem despertam desejo sexual, aqueles barbados ridículos, aqueles bêbados. Aqueles vândalos em certo modo, grotescos, eram seus verdadeiros amigos o tempo todo.


Não te usavam como muleta emocional, como serviçal, havia troca justa e igual.

Agora tudo faz sentido. Seus instintos masculinos primitivos já lhe ensinaram: amizade com outros homens, mulheres para sexo e procriação.

Agora, quando uma mulher começa a tentar iniciar uma amizade aos moldes daquela, já no "olá", das duas uma: ou você dá um cartão de um psicólogo, que é pago para ouvir merdas, ou toca o foda-se e corta desde o início uma planta maldita que jamais deve crescer : a amizade homem e mulher, onde você é o serviçal assexuado, o amigay.

Texto: O Ouvinte
Créditos: http://central-bufalo.blogspot.com.br/2011/02/o-ouvinte.html