Texto: Táticas sujas para vencer discussões

novembro 14, 2016 , , 0 Comments

Táticas sujas para vencer discussões

Entre pessoas pouco desenvolvidas, é comum a inexistência de sinceridade nas tentativas de diálogo. Os diálogos se degeneram em debates e discussões, nos quais a intenção não é esclarecer e nem compreender, mas “ganhar” e convencer.Isso é particularmente problemático quando temos que enfrentar o autoritarismo e a intolerância intelectuais.

Como defendo a liberdade de pensamento, resolvi descrever um pouco as táticas de manipulação psicológica utilizadas em vários meios nos quais a desonestidade e violência intelectual imperam. Basicamente, elas se dividem em dois tipos: aquelas que constrangem emocionalmente e aquelas que desconcertam intelectualmente. Vejamos algumas:


Táticas de constrangimento emocional (erística)


  • Sugerir aos presentes que o interlocutor defende uma tese perigosa (e por extensão é um ser perigoso, uma espécie de ideólogo do mal);
  • Falar sem parar para não permitir que a outra pessoa exponha seus motivos;
  • Lançar rajadas de perguntas seguidas em curto espaço de tempo para não permitir que a pessoa responda;
  • Gritar e falar alto;
  • Fazer caras e bocas (é bem conhecida a expressão facial de um debatedor cínico)
  • Fazer ameaças acusando a pessoa de ser um monstro;
  • Evocar problemas da vida pessoal do interlocutor;
  • Tentar colocar o interlocutor em uma situação vexatória por meio de calúnias que o ridicularizem;
  • Citar exemplos belos que despertem piedade;
  • Chorar, fingindo-se de vítima;
As táticas de constrangimento emocional visam provocar no interlocutor sentimentos negativos ou ruins, de maneira a paralisá-lo e impedi-lo de continuar expressando o pensamento coerentemente. Em muitos meios são vistas como sinônimo de inteligência (!), apesar de seu caráter brutal evidente.

Táticas de desconcertamento intelectual (sofística)


  • Excluir uma hipótese utilizando outra que não lhe é incompatível (“Fantasmas não existem porque a ciência não os comprovou”);
  • Simular responder a uma pergunta enquanto se tenta despistá-la;
  • Tentar relacionar o problema a um fato com o qual o mesmo não possui relação;
  • Recusar-se a permitir o exame das premissas falsas que tenta esconder;
  • Acusar a crítica desfavorável a uma tese de ser a defesa de alguma tese contrária (“Se você critica os gregos e os considera maus, então é porque está a favor dos troianos e os considera bons”);
  • Acusar a defesa de uma tese de ser um ataque a alguma tese contrária (“Se você defende os gregos e os considera bons, então é porque está contra os troianos e os considera maus”);
  • Ocultar uma ideia absurda com frases exageradamente sofisticadas e complexas, compostas por combinações de palavras que não dizem nada, impossibilitando assim seu entendimento;

As táticas de desconcertamento intelectual visam confundir para convencer, evitando o esclarecimento e a confusão.

Costuma-se confundir a erística com a sofística. Meu ponto de vista é o de que a erística corresponde a artimanhas voltadas para atingir as emoções do interlocutor e dos presentes, enquanto a sofística é voltada para atingir seus intelectos. A sofística convence, enquanto a erística desconcerta, confunde, envergonha, atemoriza, intimida, distrai etc.

A principal divergência entre Sócrates e os sofistas era justamente esta questão envolvendo a sinceridade na busca da verdade e a sofisticação da retórica para convencer. Como vemos, o problema perdura até hoje. As táticas que descrevi acima representam uma pequena parte de um repertório imenso existente. Irei ampliando e atualizando esse post conforme dispor de tempo e receber inspirações.

O que fazer?

Sem querer propor soluções miraculosas para essas duas doenças do caráter, sugiro que, antes de iniciar um diálogo com um desonesto intelectual, você o “amarre” na sinceridade, interrogando-o exaustivamente a respeito dos termos em que se dará o diálogo e exigindo o compromisso da parte dele em ser sincero, imparcial, calmo etc. explicitando a ordem no diálogo como um pré-requisito para que a interação se inicie. É como lidar com um desonesto agente de vendas: quanto mais armadilhas e trapaças você conseguir antecipar, mais eficientemente você conseguirá forçá-lo a se comprometer a não trapacear e mais completa estará sua defesa. Portanto, as garantias devem ser obtidas antes do problema se instalar. Assim, as chances de esclarecer, explicar e compreender serão muito maiores.

Assim, o melhor é “quebrar as pernas” das artimanhas antes que elas sejam aplicadas. Isso resolve alguns casos, mas não todos.

Créditos: https://amordissidente.wordpress.com/2015/10/23/taticas-sujas-para-vencer-discussoes/