O Homem e a Morte: Marco Aurélio - Parte 16

janeiro 17, 2021 , , 0 Comments


"Isto que sou é carne, sopro vital e faculdade condutora. Abandona teus livros; não distrai tua mente; isso não é permitido, mas, como se estivesses desde agora na iminência de morrer, despreza a carne nela pensando minimamente, a qual não passa de sangue e poeira, pequenos ossos, tecidos precários de nervos e entrelaçamento de veias e artérias. Considera o que é teu sopro vital, que não passa de um vento, que nem é constante, mas a todo momento expelido para ser novamente engolido." (Marco Aurélio, Meditações, EdiPro, Livro II, página 25)

"Ademais, confere a ti mesmo repouso no que se refere a todas as demais ideias. Porém, tu conferirás a ti repouso executado cada ação de tua vida como se fosse a última, afastando toda leviandade e desvio passional daquilo que a razão decide, bem como a hipocrisia, o egoísmo e o descontentamento com o quinhão que coube a ti. Vês quão poucos sãos os princípios cuja posse capacita alguém a viver uma vida que transcorre de modo favorável e semelhante à dos deuses; com efeito, os deuses nada exigem daqueles que dão atenção a tais princípios." (Marco Aurélio, Meditações, EdiPro, Livro II, página 27)


"Considerando que é possível tu deixares esta vida a qualquer momento, administra cada ato, palavra e pensamento em consonância com isso. Deixar os seres humanos, porém, se existirem deuses, não é de se temer, pois estes não te envolverão no mal; na hipótese, decerto, de não existirem ou não se preocuparem com as coisas humanas, qual o sentido de viver em um mundo destituído de deuses ou de Providência? Contudo, eles existem e, positivamente, se preocupam com as coisas humanas; e colocaram tudo ao alcance do ser humano para que este não caia em poder de males reais; se restasse efetivamente qualquer mal além desses males, haveriam de exercer providência em relação a isso também para que se possa evitá-lo. Como conceber que aquilo que não torna pior uma pessoa pode tornar pior a vida de uma pessoa? Tampouco é de se pensar que a natureza do universo omitiu-se com referência a essas coisas por ignorância ou, tendo conhecimento, que foi incapaz de tomar precauções; nem que ela, poderosa como é, por incapacidade ou inépcia, tenha cometido essa falta, levando a ocorrer indistinta e confusamente bens e males a pessoas boas e más. Mas a morte e a vida, a boa e a má reputação, o sofrimento e o prazer, a riqueza e a pobreza, tudo isso atinge igualmente pessoas boas e más, sendo coisas que não nos transmitem nobreza nem vileza. Não são, portanto, nem boas nem más." "Isto que sou é carne, sopro vital e faculdade condutora. Abandona teus livros; não distrai tua mente; isso não é permitido, mas, como se estivesses desde agora na iminência de morrer, despreza a carne nela pensando minimamente, a qual não passa de sangue e poeira, pequenos ossos, tecidos precários de nervos e entrelaçamento de veias e artérias. Considera o que é teu sopro vital, que não passa de um vento, que nem é constante, mas a todo momento expelido para ser novamente engolido." (Marco Aurélio, Meditações, EdiPro, Livro II, página 28)


"E o que é o morrer? Se alguém olha a morte isoladamente, em si mesma, decompondo mediante a inteligência todas as partes que nela se mostram como fantasmas, vai concebê-la como sendo tão somente uma ação da natureza, uma ação da natureza que é pueril temer; e certamente ela não é apenas uma ação da natureza, mas ainda algo que promove o que é do interesse dela." (Marco Aurélio, Meditações, EdiPro, Livro II, página 29)


"[...] E principalmente aguardar a morte em uma disposição favorável e tranquila, porquanto ela nada é senão a dissolução dos elementos a partir dos quais cada ser vivo é composto. Se, assim, para os próprios elementos nada há de se temer no fato de cada um se transformar continuamente no outro, por que temer e preocupar-te com tua transformação e dissolução no conjunto? Isso é conforme a natureza, e nada que é conforme a natureza constitui mal." (Marco Aurélio, Meditações, EdiPro, Livro II, página 31)


"A morte, como o nascimento, é um mistério da natureza. [O nascimento] é uma combinação de elementos, enquanto [a morte] é uma dissolução nos mesmos elementos: nada em absoluto que seja desonroso, uma vez que não se opõe ao que se coaduna com um animal racional nem à razão de nossa disposição natural.

Tais coisas, por conta de tais fatores, devem assim se produzir naturalmente, sob o império da necessidade; não querer que assim seja é querer que a figueira não tenha suco. Em uma palavra, lembra-te que não transcorrerá muito tempo para que tu e ela estejam mortos; logo depois, nada deixareis atrás de vós, nem sequer vosso nome." (Marco Aurélio, Meditações, EdiPro, Livro IV, página 43)


"Tens sido substrato na qualidade de uma parte. Desaparecerás naquilo que te gerou, ou melhor, no seio da razão criadora, mediante transformação, tu serás restaurado." (Marco Aurélio, Meditações, EdiPro, Livro IV, página 44)


"Todo aquele que busca a fama póstuma não imagina que cada um daqueles que dele se recorda não tardará a morrer, e que seus sucessores, por sua vez, também acabarão mortos, até finalmente a inteira recordação extinguir-se. Podes, inclusive, até supor que aqueles que se recordarão de ti e essa memória são imortais. Mas o que representa isso para ti? E não digo apenas que nada representa para o morto, mas de que serve o louvor mesmo para os vivos? A não ser que se leve em conta alguma eventual vantagem doméstica. Com efeito, nessa perspectiva, deixas de lado impropriamente a dádiva da natureza, ou seja, apega-te a qualquer coisa exceto á razão." (Marco Aurélio, Meditações, EdiPro, Livro IV, página 44-45)


"Não te conduzas como se estivesses destinado a viver 10 mil anos. A fatalidade está no teu encalço. Enquanto ainda vives, enquanto há possibilidade, sê da estipe das pessoas boas." (Marco Aurélio, Meditações, EdiPro, Livro IV, página 44)


"Não tardará para que sejas cinzas ou um esqueleto,e  um nome ou nem sequer um nome; o nome, porém, é um ruído e um eco. Quanto às coisas, que no decorrer da existência gozam de elevado apreço, não passam de coisas vãs que se deterioram, insignificâncias, pequenos cães que se mordem, disputas vazias e sórdidas, crianças que riem para logo depois chorarem. No que se refere a confiança e boa-fé, o pudor, a justiça e a sinceridade retiraram-se "para o Olimpo se distanciando desta Terra de vastos caminhos".

O que, afinal, te retém aqui, a considerar que os objetos dos sentidos mudam com facilidade e carecem de substância, que os órgãos dos sentidos são imprecisos e facilmente ficam desnorteados por força das falsas impressões, que o próprio pequeno sopro da vida é apenas uma exalação do sangue e que a glória junto aos homens é coisa vã? E o que fazer diante disso? Aguardarás com calma a extinção ou a transformação. E até chegar este momento, te satisfarás com o quê? Ora, não será com outra coisa senão com a veneração dos deuses e render louvor a eles, fazer o bem aos seres humanos, suportá-los com perseverança e deles não se afastar. além disso, convém lembrares que tudo o que vês de externo inerente a tua carne ou a tua vida, que é um tênue sopro, não pertence a ti nem está subordinado a ti." (Marco Aurélio, Meditações, EdiPro, Livro IV, página 65-66)


"A respeito da morte: ou é uma dispersão, na hipótese de tudo o que existe serem átomos, ou é uma extinção ou transformação, na hipótese de uma redução à unidade." (Marco Aurélio, Meditações, EdiPro, Livro VII, página 86)


Data: 09/10/2020

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