Excertos de Sol e Aço de Yukio Mishima
"O aço, fielmente, me ensinou a correspondência entre o espírito e o corpo: assim, emoções fracas, me pareceu, correspondiam a músculos flácidos, sentimentalismo a um estômago saliente e excessiva sensibilidade a uma pele branca e super-sensível. Músculos salientes, estômago retesado e uma pele dura devem corresponder respectivamente e a um intrépido espírito de luta, ao frio poder do julgamento intelectual e a uma disposição vigorosa. Apresso-me em salientar que não creio que as pessoas comuns sejam assim. Até minha reduzida experiência basta para me fornecer exemplos de espíritos fracos engastados dentro de músculos poderosos." (pág 26-27)
"Em especial, me era caro um impulsos romântico em direção à morte, mas, ao mesmo tempo, eu exigia um corpo estritamente clássico como veículo desse impulsos; um sentido particular de destino me fazia acreditar que a razão pela qual meu impulso romântico para a morte não tomava corpo na realidade era o fato imensamente simples que eu não tinha as necessárias qualificações físicas para colocá--lo em prática. Músculos fortes e esculturais eram indispensáveis para uma morte nobremente romântica. Qualquer aproximação entre músculos frouxos e débeis e a grandeza da morte me parecia absurdamente inapropriada. Desejoso aos dezoito anos de uma morte prematura, não me senti pronto para ela. me faltava, em suma, os músculos apropriados para uma morte dramática. E me ofendeu muito meu orgulho romântico que foi este despreparo que me permitiu sobreviver à guerra." (pág 27-28)
"No ponto em que muitas pessoas ficam satisfeitas com o grau de cultura intelectual que atingiram, tive que descobrir que, no meu caso, o intelecto, longe de ser um instrumento inofensivo, era uma arma, um meio de sobrevivência. Assim, as disciplinas físicas que, depois, se tornariam tão fundamentais para minha vida eram, de certa forma, comparáveis ao modo como uma pessoa que teve apenas o corpo como meio de vida, tentasse, num esforço frenético, adquirir no leito de morte a educação intelectual que deveria ter adquirido na juventude." (pág 28)
"Os músculos que assim eu desenvolvi eram ao mesmo tempo pura existência e obras de arte; paradoxalmente, eles até possuíam uma certa natureza abstrata. Sua única desgraça é que estavam envolvidos intimamente demais com o processo da vida, que decretava que eles deveriam declinar e perecer com o declínio da própria vida." (pág 29)
Enxertos extraídos do livro "Sol e Aço" de Yukio Mishima feito por Charis D'Cruz.
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