O Homem e a Morte: Como Deseja Morrer - Parte 8

abril 23, 2020 , , 0 Comments


Quando ouvia perguntarem "como você quer morrer?", naturalmente as pessoas respondiam algo como "quero morrer dormindo", "quero morrer de forma indolor", etc, e eu pensava dessa maneira... até ler o livro "Sol e Aço" de Yukio Mishima. Quando li este livro eu percebi que o jeito de morrer é muito maior do que isso.

Mishima dizia querer morrer em um dia de verão, jovem, com um corpo musculoso e bronzeado pelo sol - sem o qual ele viu que não podia realizar sua vontade - por uma causa justa, nobre e honrada.


Lendo isso, eu me questionei sobre como eu queria morrer. Mishima parecia haver planejado cada minimo detalhe romanticamente, e eu sequer sabia como queria morrer. Ainda hoje eu não sei completamente como quero morrer, mas desejo morrer em um sábado a noite, talvez no verão sentindo aquela brisa morna, gostosa e suave sobre a pele, o sereno, com um céu estrelado e limpo, com aquele clima solitário, depressivo e reflexivo que tanto me cativa, ou talvez no inverno com aquela brisa um pouco fria, que parece refrescar sua alma. Não sei qual dos dois eu prefiro, mas penso mais no verão. Eu desejo morrer em uma sábado a noite, pois ele tem uma ligação muito forte comigo, porém é algo que eu jamais poderia explicar - e olhe que eu tentei. Em verdade, tentei muito. Mas não chegava nem perto de descrever o que sentia, o que ele representa para mim. Embora, Mishima tenha descrito bem o que um dia de verão representava para ele e até feito um romance chamado "Morte em Pleno Verão" elaborando essa ideia. - Também quero, o que sempre desejei, não morrer velho. Talvez 50 anos seja o máximo para mim - e estou sendo generoso -. Ademais, penso talvez em morrer tranquilamente e reflexivo após ter cumprido todas as minhas missões e ter realizado tudo o que tinha que fazer como um soldado que descansa depois do dever cumprido. Morrer com um corpo perfeito, moldado, esbelto, e morrer sozinho - já que eu sou do tipo que passa mal, morre, mas não incomoda. E seria uma desonra pra mim se caso eu morresse e demonstrasse dor, ou gritasse, ou qualquer sinal de fraqueza com alguém do lado. Meu orgulho não deixaria que tal coisa acontecesse, mas nunca se sabe...

A morte de Cyrano de Bergerac - o personagem do livro de mesmo nome de Edmond de Rostand, não a pessoa real - é um ideal para mim, é como eu idealizo minha morte. Eu desejo morrer de forma semelhante. Vitorioso apontando seu amigo fiel de todos os tempos, sua espada, para o belo luar e fazer suas ultimas reflexões - ainda que ele tenha feito exteriormente, ou seja, em voz alta - como um homem que perdeu e ganhou, que se sacrificou, como um herói, como um soldado que cumpriu sua missão, como um homem com sua honra intacta, e triunfando sobre a morte!

Não desejo, entretanto, uma morte comum. Hoje em dia o mais comum é pessoas morrerem de câncer, coração. Se vou morrer assim - por uma doença - quero que seja algo incomum, diferente da maioria, como uma doença rara, algo assim. Quero ter consciência da minha morte também. Já quase morri várias vezes e em algumas vezes eu pude refletir, pensar, já outras foram tão rápidas que não deu tempo para pensar em nada sequer. Então, quero que seja uma morte que eu saiba que estou morrendo e possa meditar sobre. Abomino a ideia de morrer sem saber. De ser tão rápido que não saberei que morri.

Creio que você pode conhecer um homem verdadeiramente pelo jeito que ele deseja morrer. Mishima queria ter uma morte heroica em pleno verão, queria morrer lutando por algo. Isto pode significar que ele é um homem de ação, valente e com um espirito guerreiro. Já em casos como o meu eu penso ser uma morte de um intelectual, de um sábio, de um eremita. Talvez possa ser chamada de covarde por alguns, mas já que eu sempre estive disposto a morrer lutando, a morrer por algo, mesmo que seja salvar a vida de uma pessoa que acabei de conhecer, e quase já morri de fato, não considero covardia o meu caso. Ainda mais porque quero morrer depois de concluir minha missão e sinto que talvez ela seja extremamente perigosa, embora ainda não saiba qual é ela, apenas pressentimentos e inclinações, e o jeito como irei morrer também não especifiquei - até porque não sei ainda -. Alguém poderia muito bem me metralhar após eu refletir sob o céu noturno sendo agraciado por sua brisa morna. Há uma morte de um alemão na serie "Better Call Saul" que é semelhante. A noite, sob o céu estrelado, um alemão caminha tranquilamente sabendo que ia morrer, refletindo, e aceitando sua morte valentemente, e, após ele andar alguns metros, Mike atira nele o matando pelas costas. Existe covardia nisto?

Você deve pensar em cada detalhe romanticamente de como você quer morrer e tê-lo sempre em seu coração e pensamento!

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