Celtas | História, Cultura e Origem

outubro 08, 2016 , , , 0 Comments



Celtas

Celtas é a designação dada a um conjunto de povos, um etnónimo, organizados em múltiplas tribos, pertencentes à família linguística indo-europeia que se espalhou pela maior parte do oeste da Europa a partir do segundo milénio a.C.. A primeira referência literária aos celtas (Κελτοί) foi feita pelo historiador grego Hecateu de Mileto no século VI a.C..





Origens

As origens dos povos celtas são motivo de controvérsia, especulando-se que entre 1900 e 1500 a.C. tenham surgido da fusão de descendentes dos agricultores danubianos neolíticos e de povos de pastores oriundos das estepes. Esta incerteza deriva da complexidade e diversidade dos povos celtas, que além de englobarem grupos distintos, parecem ser a resultante da fusão sucessiva de culturas e etnias. Na península Ibérica, por exemplo, parte da população celta se misturou aos iberos, o que resultou no surgimento dos celtiberos.

Todavia, estudos genéticos realizados em 2004 por Daniel Bradley, do Trinity College de Dublin, demonstraram que os laços genéticos entre os habitantes de áreas célticas como Gales, Escócia, Irlanda, Bretanha e Cornualha são muito fortes e trouxeram uma novidade: a de que, de entre todos os demais povos da Europa, os traços genéticos mais próximos destes eram encontrados na península Ibérica.

Daniel Bradley explicou que sua equipe propunha uma origem muito mais antiga para as comunidades da costa do Atlântico: pelo menos 6000 anos atrás, ou até antes disso. Os grupos migratórios que deram origem aos povos celtas do norooeste europeu teriam saído da costa atlântica da península Ibérica nos finais da última Idade do Gelo e ocupada as terras recém libertadas da cobertura glacial no noroeste europeu, expandindo-se depois para as áreas continentais mais distantes do mar.

O geneticista Bryan Sykes confirma esta teoria no seu livro Blood of the Isles (2006), a partir de um estudo efectuado em 2006 pela equipe de geneticistas da Universidade de Oxford. O estudo analisou amostras de ADN recolhidas de 10.000 voluntários do Reino Unido e Irlanda, permitindo concluir que os celtas que habitaram estas terras, — escoceses, galeses e irlandeses —, eram descendentes dos celtas da península Ibérica que migraram para as ilhas Britânicas e Irlanda entre 4.000 e 5.000 a.C..

Outro geneticista da Universidade de Oxford, Stephen Oppenheimer, corrobora esta teoria no seu livro "The Origins of the British" (2006). Estes estudos levaram também à conclusão de que os primitivos celtas tiveram a sua origem não na Europa Central, mas entre os povos que se refugiaram na península Ibérica durante a última Idade do Gelo.

Estudos feitos na Universidade do País de Gales defendem que as inscrições encontradas em estelas no sudoeste da península Ibérica demonstram que os celtas do País de Gales vieram do sul de Portugal e do sudoeste de Espanha.

Boa parte da população da Europa ocidental pertencia às etnias celtas até a eventual conquista daqueles territórios pelo Império Romano; organizavam-se em tribos, que ocupavam o território desde a península Ibérica até a Anatólia. A maioria dos povos celtas foi conquistada, e mais tarde integrada, pelos Romanos, embora o modo de vida celta tenha, sob muitas formas e com muitas alterações resultantes da aculturação devida aos invasores e à posterior cristianização, sobrevivido em grande parte do território por eles ocupado.

Existiam diversos grupos celtas compostos de várias tribos, entre eles os bretões, os gauleses, os escotos, os eburões, os batavos, os belgas, os gálatas, os trinovantes e os caledônios. Muitos destes grupos deram origem ao nome das províncias romanas na Europa, as quais que mais tarde batizaram alguns dos estados-nações medievais e modernos da Europa.
Os celtas são considerados os introdutores da metalurgia do ferro na Europa, dando origem naquele continente à Idade do Ferro (culturas de Hallstatt e La Tène), bem como das calças na indumentária masculina (embora essas sejam provavelmente originárias das estepes asiáticas).

Do ponto de vista da independência política, grupos celtas perpetuaram-se pelo menos até ao século XVII na Irlanda, país onde por seu isolamento, melhor se preservaram as tradições de origem celta. Outras regiões europeias que também se identificam com a cultura celta são o País de Gales, uma entidade sub-nacional do Reino Unido, a Cornualha (Reino Unido), a Gália (França, e norte da Itália), o norte de Portugal e a Galiza (Espanha). Nestas regiões os traços linguísticos celtas sobrevivem nos topônimos, nalgumas formas linguísticas, no folclore e nas tradições.

História

Pela inexistência de dados e documentos originais, grande parte da história dos celtas é hipotética. Sabe-se, hoje, que se estendeu por 19 séculos, desde 1800 a.C. — quando, culturalmente, os celtas se individualizaram entre os demais povos indo-europeus — até o século I d.C, época da decadência motivada pela desunião entre suas várias tribos e a invasão romana às terras que ocupavam.

O período mais brilhante da história celta transcorre, aproximadamente, entre 725 e 480 a.C., na Era de Hallstatt, início da civilização céltica do ferro e, também, da invasão à Europa. Os celtas se instalaram em uma imensa região das atuais repúblicas Tcheca, Eslovaca, Áustria, sul da Alemanha, leste da França e da Espanha, alcançando a Grã-Bretanha. Nesta fase se consolidaram os traços particulares da civilização céltica.

Os Celtas foram o primeiro povo civilizado da Europa. Chegaram neste continente junto com a primeira onda de colonização ainda em 4.000 AC. Destacaram-se dos outros povos que chegaram na mesma época porque acreditavam em uma terra prometida e iam em busca dela. Em 1800 AC já tinham a sua cultura e o território totalmente estabelecidos, isso enquanto os gregos e os romanos nem sonhavam em nascer (e há quem diga que eles são colônias celtas).




Ocupavam a região da Alemanha, Bélgica, Holanda, Dinamarca, França e Inglaterra. Não eram lá muito calmos e pacíficos, para se ter uma idéia do como eram guerreiros, para um menino ser considerado homem tinha de passar por um prova que consistia em sair da cidade onde morava, sair da sua região, e trazer a cabeça de qualquer pessoa que não fosse Celta. Somente com a cabeça na mão é que se fazia uma tatuagem em seu corpo que dizia que ele agora era homem adulto.

Chegaram a desenvolver uma escrita, ela é tão complexa que hoje são poucos os que se atrevem a desvendá-la. A escrita era considerada mágica, e somente os seus sacerdotes é que a aprendiam, estes eram os famosos druídas. Inventaram lendas belíssimas, que estão entre as mais famosas dos dias de hoje, como por exemplo as história do rei Arthur e os cavaleiros da távola redonda, Tristão e Isolda, além de terem inventado quase todos os contos de fada (que foram se modificando com o tempo).

Sem dúvida eram um povo com muita ciência unida a muita mística. Têm relatos praticamente inexplicáveis, como o de uma operação de transplante de coração, realizado em 1000 a.C., e o de Navios voadores que soltavam fumaça enquanto desciam e pousavam no meio dos campos da Inglaterra. Utilizaram com muita perfeição o monumento de Stonehenge, o qual dizem que não construíram ... outro mistério entre os tantos que o cercam.

Tinham um estrutura de família bem peculiar, se consideravam animais acreditavam em uma infinidade de deuses e demônios, por sinal, vocês sabiam que os simpáticos duendezinhos com seus potes de ouro são invenção dos Celtas, só que nesta história eles não são nada engraçados, são terrivelmente malvados e sarcásticos.

E numa cultura com tantas lendas, tantos seres malvados, tinham também grandes heróis ... e se espantem, o maior destes heróis era uma mulher, e o seu maior ato heróico era o poder gerar vários filhos por ano, 7 a 8, durante todos os anos. E com heróis querendo vencer demônios, tinham artefatos sagrados muito interessantes, são 4 os que influenciaram praticamente todo o nosso imaginário.

A influência cultural celta, que jamais desapareceu, tem mesmo experimentado um ciclo de expansão em sua antiga zona de influência, com o aparecimento de música de inspiração celta e no reviver de muitos usos e costumes conhecidas hoje como Celtismo.

Língua e cultura




Língua

As línguas célticas derivam de dois ramos indo-europeus do grupo denominado centum: o celta-Q (goidélico), mais antigo, do qual derivam o irlandês, o gaélico da Escócia e a língua manx da Ilha de Man, e o celta-P (galo-britânico), falado pelos gauleses e pelos habitantes da Bretanha, cujos descendentes modernos são o galês (do País de Gales) e o bretão (na Bretanha). Os registos mais antigos escritos numa língua celta datam do século VI a.C..

As informações hoje disponíveis sobre os celtas foram obtidas principalmente através do testemunho dos autores greco-romanos. Isto não permite traçar um quadro completo e imparcial do que foi a realidade quotidiana desses povos. O chamado "alfabeto das árvores" ou Ogham surgiu apenas por volta de 400 d.C.
Edward Lhuyd, em 1707, identificou uma família de línguas, ao notar a semelhança entre o irlandês, o bretão, o córnico e o galês e a extinta língua gaulesa, as quais classificou como línguas celtas. Lhuyd justificou o uso da expressão pelo fato de estas pertencerem à mesma família linguística do gaulês e a língua gaulesa e a maioria das tribos gaulesas terem sido chamadas de celtas.
Fontes clássicas e arqueológicas atestam que os celtas faziam uso limitado da escrita. Júlio César, no De Bello Gallico, comentou que os helvécios usavam o alfabeto grego para registar o censo da população e que os druidas recusavam-se a registar por escrito os versos, mas que faziam uso do alfabeto grego para as transações públicas e pessoais. Diodoro disse que nos funerais os gauleses escreviam cartas aos amigos, e jogavam-nas na pira funerária, como se elas pudessem ser lidas pelos defuntos. Já Ulpiano determina que os fidei comunis podiam ser escritos em gaulês, entre outras línguas, o que gerou especulações de que no século III esta língua ainda seria escrita e falada.
O alfabeto ibérico foi usado para registar o celtibéro, uma língua celta da península Ibérica. O alfabeto de Lugano e Sondrio foi usada na Gália Cisalpina e o alfabeto grego na Gália Transalpina. Variações do alfabeto latino foram usadas na península Ibérica e na Gália Transalpina. Estudos colocam a hipótese de haver uma relação entre as inscrições de Glozel e um dialeto celta.

Cultura

As manifestações artísticas celtas possuem marcante originalidade, embora denotem influências asiáticas e das civilizações do Mediterrâneo (grega, etrusca e romana). Há uma nítida tendência abstrata na decoração de peças, com figuras em espiral, volutas e desenhos geométricos. Entre os objetos inumados, destacam-se peças ricamente adornadas em bronze, prata e ouro, com incisões, relevos e motivos entalhados. A influência da arte celta está ainda presente nas iluminuras medievais irlandesas e em muitas manifestações do folclore do noroeste europeu, na música e arquitectura de boa parte da Europa ocidental. Também muitos dos contos e mitos populares do ocidente europeu têm origem na cultura dos celtas.
Alguns estereótipos modernos e contemporâneos foram associados à cultura dos celtas, como imagens de guerreiros portando capacetes com chifres e ou asas laterais (vide Asterix), comemorações de festas com taças feitas de crânios dos inimigos, entre outros. Essas imagens se devem em parte ao conhecimento divulgado sobre os celtas durante o século XIX.

Diógenes Laércio, na sua obra Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres, comenta que a origem do estudo da filosofia era atribuída aos celtas, (entre outros povos considerados bárbaros). O conhecimento da filosofia era atribuído aos druidas e aos semnothei.

Massalia era um conhecido centro de aprendizagem onde os celtas iam aprender a cultura grega, a ler e a escrever.

Entre os eruditos da antiguidade de origem celta ou oriundos das regiões celtas são conhecidos Gneu Pompeu Trogo, Marcelo Empírico, Públio Valério Catão, Marco Antônio Gnífon, Cornélio Galo, Rutílio Cláudio Namaciano, Virgílio, Vibius Gallus Tito Lívio Cornélio Nepos e Sidônio Apolinário.

Organização social

A unidade básica de sua organização social era o clã, composto por famílias aparentadas que partilhavam um núcleo de terras agrícolas, mas que mantinham a posse individual do gado que apascentavam.

Com base em estudos efectuados na Irlanda, determinou-se que a sua organização política era dividida em três classes: o rei e os nobres, os homens livres e os servos, artesãos, refugiados e escravos. Este último grupo não possuía direitos políticos. A esta estrutura secular, agregavam-se os sacerdotes (druidas), bardos e ovados, todos com grande influência sobre a sociedade.
Mais recentemente foram apresentadas novas perspectivas sobre a celtização do Noroeste de Portugal e a identidade étnica dos Callaeci Bracari. No país, os povoados castrejos do tipo citaniense apresentavam características similares às dos povoados celtas. A citânia de Briteiros é exemplo de um povoado com características celtas, sendo, porém, necessário tomar esta designação no seu sentido lato: isto é - seria o local de habitação das numerosas tribos celtizadas (celtici). Tongóbriga é um sítio arqueológico situado na freguesia de Freixo, também antigo povoado dos Callaeci Bracari.

Religião




Os celtas exaltavam as forças telúricas expressas nos ritos propiciatórios. A natureza era a expressão máxima da Deusa Mãe. A divindade máxima era feminina, a Deusa Mãe, cuja manifestação era a propria natureza e por isso a sociedade celta embora não fosse matriarcal mesmo assim a mulher era soberana no domínio das forças da natureza. A religião celta era politeísta com características animistas, sendo os ritos quase sempre realizados ao ar livre. Suspeita-se que algumas das suas cerimônias envolviam sacrifícios humanos. O calendário anual possuía várias festas místicas, como o Imbolc e o Belthane, assim como celebrações dos equinócios e solstícios.

Embora se saiba que os celtas adoravam um grande número de divindades, do seu culto hoje pouco se conhece para além de alguns dos nomes. Tendo um fundo animista, a religião celta venerava múltiplas divindades associadas a atividades, fenômenos da natureza e coisas. Entre as divindades contavam-se Tailtiu e Macha, as deusas da natureza, e Epona, a deusa dos cavalos. Entre as divindades masculinas incluíam-se deuses como Goibiniu, o fabricante de cerveja, e Tan Hill, a divindade do fogo. O escritor romano Lucano faz menções a vários deuses celtas, como Taranis, Teutates e Esus, que, curiosamente, não parecem ter sido amplamente adorados ou relevantes.
Algumas divindades eram variantes de outras, refletindo a estrutura tribal e clânica dos povos celtas. A esta complexidade veio juntar-se a plêiade de divindades romanas, criando novas formas e designações. É nesse contexto que a deusa galo-romana dos cavalos, Epona, parece ser uma variante da deusa Rhiannon, adorada em Gales, ou ainda Macha, que era adorada na região do Ulster.

As crenças religiosa dos celtas também originaram muitos dos mitos europeus. Entre os mais conhecidos está o mito de Cernunnos, também chamado de Slough Feg ou Cornífero na forma latinizada, comprovadamente um dos mitos mais antigos da Europa ocidental, mas do qual pouco se conhece.

Com a assimilação no Roma, os deuses celtas perderam as suas características originais e passaram a ser identificados com as correspondentes divindades romanas. Posteriormente, com a ascensão do Cristianismo, a Velha Religião foi sendo gradualmente abandonada, sem nunca ter sido totalmente extinta, estando ainda hoje presente em muitos dos cultos de santos e nas crenças populares assimilados no cristianismo.

Com a crescente secularização da sociedade europeia, surgiram movimentos neo-pagãos pouco expressivos, que buscam a adaptação aos novos tempos das crenças do paganismo antigo, sendo alguns dos principais representantes a wicca e os neo-druidas, que embora contenham alguns elementos celtas, não são célticos, nem representam a cultura do povo celta.

A wicca tem sua origem na obra de ocultistas do século XX, como Gerald Brousseau Gardner e Alesteir Crowley. Já o neo-druidismo não tem uma fonte única, sendo uma tentativa de reconstruir o druidismo da Antiguidade, tendo sua estruturação sido iniciada em sociedades secretas da Grã-Bretanha a partir do século XVIII.

Mitologia

Consideram-se três as fontes principais sobre a mitologia celta, os autores greco-romanos, a arqueologia, e os documentos britânicos e irlandeses.

São riquíssimas as narrativas mitológicas celtas, principalmente as transmitidas oralmente em forma de poema, como "O Roubo de Gado em Cooley". Nesta, o herói irlandês Cú Chulainn enfrenta as forças da rainha Maeve para defender o seu condado. Outra narrativa, do Livro das Invasões (Lebor Gabala Erren), conta a lenda dos filhos de Míle Espáine e o seu trajecto até chegarem à Irlanda.

Outros legados dos celtas são as histórias do Ciclo do Rei Artur da Inglaterra e relatos míticos dos quais se originaram os contos de fadas, como, por exemplo, Chapeuzinho Vermelho (onde a menina representa o Sol devorado pela noite do inverno, ou seja, o lobo).

Os celtas da Europa continental não deixaram registro escrito, mas conhecemos seus deuses através dos conquistadores romanos, que estabeleceram elos entre muitas dessas divindades e seus próprios deuses. Por exemplo, o deus do trovão Taranis era o equivalente do Júpiter romano, e várias outras divindades locais eram equiparadas a Marte, Mercúrio e Apolo. Os povos do País de Gales e da Irlanda também deixaram uma mitologia muito rica e muitas de suas lendas foram escritas durante a Idade Média.

A Mitologia Celta pode ser dividida em três subgrupos principais de crenças relacionadas.


  • Goidélica - Irlandesa e escocesa 
  • Britânica Insular - Galesa e da Cornuália 
  • Britânica Continental - Europa continental. 


Na Irlanda, o registro mais antigo da mitologia celta é o “Book of the Dun Cow”, que contém as sagas do herói Cuchulainn, escrito pelo monje Maelmuri, morto pelos vikings, em sua catredral, em 1106. Esse título se deve a um manuscrito do séc. VII, escrito por S. Ciaran sobre a pele de sua vaca de estimação.

O legado celta da Irlanda é muito forte e a mais direta fonte para estudos, pois os romanos jamais invadiram esse país. Preciosos manuscritos da mitologia irlandesa nos elucidam muito sobre a espiritualidade e sociedade celta. Alguns textos-chave são “O Livro das Invasões da Irlanda”, “O Roubo do Gado de Cooley”, “A Cartilha do Sábio”, “A Batalha de Moytura”, entre outros.

Na mitologia britânica temos o Mabinogion, uma coleção de 11 contos galeses conservados nos manuscritos “White Book of Rhydderch” e “Red Book of Hergest”, dos sécs. XIII e XIV. Mabinogion é o título dado por lady Charlotte Guest, em 1849, quando ela fez a tradução dos manuscritos para o inglês.

Costumes e Vestimentas Celtas

A vívida descrição, do punho do Políbio, da batalha de Télamon, travada entre os Romanos e os invasores gauleses em 225 a. C., contém o mais antigo relato do vestuário e da aparência dos Celtas.
É de supor ter-se apoiado em relatos desta batalha em primeira mão, e podemos aceitar o seu testemunho com confiança.
Descreve como os Ínsubres e os Bóios, tribos já estabelecidas no Norte de Itália, usavam calças (latim bracae, donde o inglês breeches, calções) e as capas ligeiras.
Os Gaesatae, combatentes trazidos de além-Alpes, exibiam-se nus à frente da primeira linha de batalha, tendo por únicos adornos um torques no pescoço e pulseiras nos pulsos, de ouro.
Tanto homens como as mulheres prendiam os seus cabelos com grossos alfinetes, penteavam-se com joias de ouro ou prata ricamente elaboradas.
Aqueles que não podiam aceder a este tipo de joias, recorriam a produtos de bronze, com incrustações de metais preciosos .
A vestimenta consistia numa saia larga, e numa camiseta em lã ou linho, ás vezes adornadas com motivos geométricos.
Esta vestimenta era coberta por uma capa negra de lã para protecção do frio e da chuva. Prendiam as sua vestimentas com cinturões de couro com apliques metálicos.
As roupas celtas eram vistosas, até demais para os austeros padrões de gregos e romanos.
Fios de cores vívidas - obtidos com os mais diferentes pigmentos - eram tecidos em padrões de listras ou xadrez, e a proverbial vaidade dos celtas era satisfeita com belíssimos adereços feitos com ouro, prata, contas, âmbar e esmalte.
Mas mais do que adereços, as jóias celtas determinavam seu status social.
Um adereço tipicamente celta é o torque - um grosso colar de ouro usado ao redor do pescoço. Quanto mais grosso o torque, mais socialmente proeminente era seu portador.
Os homens celtas davam preferência ao uso de longos bigodes, que usavam - segundo os observadores clássicos - para 'filtrar' a cerveja enquanto a bebiam.
Esse costume é retratado com clareza nas estátuas de celtas esculpidas por gregos e romanos - como a dramática imagem do "Gaulês à beira da morte" e também na própria arte celta.
Ao contrário das culturas clássicas do Mediterrâneo e suas togas, os celtas eram dados ao uso dessa 'barbárica' vestimenta: as calças.
Mantos e capas eram comuns, sempre em tons coloridos, e as mulheres usavam vestidos acinturados que realçavam suas formas graças a cintos de couro e, no caso das nobres, ouro e pedras presos aos quadris.
Cabelos longos eram costume em ambos os sexos, e muitos vestígios arqueológicos - bem como relatos textuais - indicam o constante uso de tranças e rabos-de-cavalo.
Sempre preocupados com as aparências, os celtas costumavam decorar o corpo com tatuagens e maquiagem.
Como já dito, os celtas jamais formaram uma federação ou império - em grande parte porque a base de sua organização social era a pequena tribo.
A esses grupos sub-tribais os romanos deram o nome de pagi.
Uma tribo – como a dos Parisi, por exemplo – era composta por diversos pagi agrupados, e raramente tribos diferentes se uniam em confederações, salvo nalguns momentos de crise – como as célebres alianças lideradas na Gália por Vercingetorix e na Grã-Bretanha pela rainha Boudicca na resistência aos romanos.
“As tribos eram geralmente governadas por reis ou chefes (normalmente em pares) com poderes limitados, e as decisões importantes eram tomadas por assembléias populares com todos os homens livres da tribo. Também havia um conselho com centenas de nobres proeminentes (chamado por César de ‘senado’), de onde eram escolhidos os líderes e do qual emanava o real poder”.
(Simon James)
Até o contato com os romanos, as tribos celtas da Gália não costumavam se estabelecer em aglomerados urbanos – pelo contrário, a população de uma tribo se espalhava por uma determinada área em pequenas propriedades rurais ou, quando muito, aldeotas.
A forma de construção das casas celtas costuma ser redonda nas ilhas britânicas e retangular na Gália (à dir.), e especula-se que cada uma delas costumava abrigar uma ou duas famílias aparentadas e seus dependentes.
Numa colina dominante da paisagem em questão, ergueria-se o forte que servia como abrigo coletivo em momentos de crise e também residência real.
A influência da cultura romana na Gália trouxe o conceito da urbe, a cidade, e muitas cidades das modernas França (Lyon) e Itália (Milão) começaram como vilas celtas.
Como principais meios de subsistência, os celtas cultivavam o trigo e criavam gado.
A posse de bois era uma forma de se determinar a riqueza de cada um.
Os celtas criaram o padrão xadrez para as vestimentas e o barril para transportar bebidas. Usavam calças, túnicas, mantos ou capas de lã, e estavam sempre ricamente adornados por torques de ouro, cintos ou faixas decorativas, broches e variados ornamentos corporais.
As túnicas e capas tinham decoração bordada.
As túnicas eram normalmente feitas de linho e caíam até os joelhos para os homens e até os tornozelos para as mulheres.
As capas eram feitas de lã e seu comprimento ostentava a riqueza ou posição social.
Usavam nos pés sandálias e sapatos de couro.

A aparência de seus trajes era muito colorida, principalmente púrpura, carmesim e verde.


Organização social

Júlio César em seu Comentários sobre a Guerra da Gália, escreveu que a população gaulesa se dividia em três classes: os druidas, os quais formariam uma espécie de classe sacerdotal; os cavaleiros (equits) que seriam os nobres; e os plebeus, os quais seriam o restante da população. Evidentemente César fizera essa descrição julgando os gauleses a partir da ideia de divisão social que ele possuía dos romanos.

Entretanto a divisão social dos gauleses e dos demais celtas não fora tão diferente assim como César supôs. A respeito da realeza muito se desconhece, sabe-se que reis celtas foram predominantes entre as tribos insulares (bretões, irlandeses e escoceses) porém entre os gauleses, celtiberos e gálatas, pouco se conhece a respeito de reis e rainhas. Acredita-se que por volta do século IV a.C os reis celtas das tribos do continente, foram substituídos por uma aristocracia que conquistou poder através da guerra e da posse de terras, pois entre os celtas nunca houvera uma identidade nacional de um Estado unificado, na realidade o que chamamos de Gálias, Celtiberia, Bretanha, Galácia, etc., eram regiões onde habitavam várias tribos celtas e cada tribo possuía seu líder.

Mas embora se desconheça a existência de uma realeza celta antiga, pois na Irlanda, ilha na qual a tribo dos bretões colonizou, chegaram a se formar pequenos reinos como o próprio Powell (1974) atesta. De qualquer forma a estrutura social dos celtas era baseada no patriarcalismo e em núcleos familiares (fine), pois muitos dos celtas viviam em vilas ou em aldeias, pois as cidades celtas ainda eram poucas. Havia também a existência de fortes ou fortalezas, essas eram mais comuns na Gália. As vilas célticas na Irlanda eram chamadas de túath, onde cada um possuía seu líder e de certa forma cada família possuía direitos e deveres. Em alguns casos, o túath poderia conter um forte, onde viveria a nobreza ou a família aristocrata governante.

Ilustração de uma aldeia celtibera.

No caso dos celtas-irlandeses, cada família de um túath era responsável por cada membro de sua família. Se algum membro da família comete-se algum tipo de crime ou desfeita, era atribuída a culpa a toda a família e a mesma deveria providenciar a punição do culpado ou a recessão sobre os danos. Além disso, Powell diz que entre os celtas independente de sua posição social, existia o chamado "preço de honra" (lóg n-enech), onde era medida a dignidade desse indivíduo e sua fortuna, pois a fortuna de um homem era algo importante em algumas sociedades celtas, pois embora um homem pudesse ser justo e honesto, ele deveria possuir uma fortuna razoável para se ver em uma posição confortável em sua sociedade.

Para se entender melhor essas questões sobre a estrutura social dos celtas, a mesma basicamente poderia ser dividida nas seguintes classes, embora houvesse diferenças entre alguns povos celtas:


  • Druidas
  • Nobreza
  • Aristocracia 
  • Plebe
  • Escravos


Os druidas como será visto mais especificamente a frente, formavam uma classe ou grupo ligado as questões religiosas mas também a tradição, estando ligados a questões políticas e judiciais, embora nota-se que os druidas necessariamente não cuidassem de questões do governo propriamente. A nobreza advinha de antigas linhagens as quais chegaram a se ramificar, gerando outras tribos; por sua vez a aristocracia poderia ser formada tanto por nobres ou por famílias que ganharam poder através da guerra ou por alianças. Os plebeus seriam o restante da população, agricultores, pastores, artesãos, comerciantes, soldados, etc., por fim havia os escravos.

Entre os celtas havia também a prática da clientela (célsine), prática esta também realizada pelos romanos, porém no caso dos celtas a clientela era diferente. Enquanto entre os romanos, os clientes (céle) eram plebeus que procuravam oferecer seus serviços a um patrício ou a fim de pagarem alguma dívida se sujeitavam ao trabalho para essa pessoa, ao mesmo tempo, os clientes romanos perdiam o direito a propriedade e tinham o direito de liberdade restrito. No caso dos celtas a clientela não seria uma "prestação de serviço" como visto entre os romanos, mas sim uma aliança. Plebeus e aristocratas poderiam ser clientes de outros aristocratas, nobres e até de plebeus, no caso de plebeu para plebeu.

Nesse caso, a clientela era um acordo de ajuda onde um homem recorria ao apoio de outros para resolver determinada questão. Geralmente a clientela estava ligada a questões militares, no entanto, embora se fosse para prestar outro tipo de serviço, o cliente manteria seus direitos a propriedade e a liberdade, e terminado seu trabalho ele receberia uma recompensa ou pagamento.

A clientela também poderia ser feita para saudar o "preço de honra" ou pagar uma fiança, dívida ou até mesmo um resgate. Powell conta que houve um caso que uma tribo de celtas atacaram os romanos na Província, região que os romanos conquistaram no sul da Gália, porém tal tribo fugiu, então os romanos cobraram de outra tribo celta que integrassem os culpados, mas devido a dívida de honra e as alianças entre tais tribos, ambas se puseram contra os romanos.

A respeito da escravidão não se sabe muito a respeito de como essa procedera entre os diferentes povos celtas. Sabe-se que os gauleses comercializavam escravos com os romanos, mas geralmente os escravos eram prisioneiros de guerra, sendo estes provenientes de outros povos ou de tribos mais afastadas.


Cópia romana da estátua grega O Gaulês Agonizante, esculpida no século III a.C, para simbolizar a vitória da colônia grega de Pérgamo sobre os gálatas. A estátua é uma das representações mais antigas conhecidas acerca da aparência dos celtas da Galícia.


Outro aspecto notável da fisionomia desses povos eram os cortes de cabelo e no caso dos homens da barba e dos bigodes. Os relatos romanos e gregos contam que era comum entre os homens celtas deixarem os cabelos ficarem longos, além disso, alguns tinham cabelos encaracolados, cacheados e até mesmo chegavam a fazer tranças. O uso de bigodes era comum entre muitas das tribos que formavam esses povos, geralmente os chefes deixavam os bigodes ficarem bem grandes, como forma de se destacarem socialmente.

O uso de cavanhaque era comum, já a de uma barba mais espessa e longa, era reservado mais aos idosos ou aos druidas. Normalmente os homens faziam a barba, mas mantinham os bigodes. Além disso, os relatos antigos dizem que os homens e as mulheres costumavam passar uma espécie de óleo para untar os cabelos e deixá-los puxados para trás, embora hoje alguns historiadores contestem se isso realmente era uma prática dos celtas, ou foi um mal entendido que os gregos e romanos interpretaram.



A respeito dessa aparência dos celtas, tais aspectos reforçavam a noção que os romanos e os gregos tinham deles como bárbaros, mas principalmente os romanos. Entre os romanos era normal e até mesmo uma conduta social, os homens manterem os cabelos curtos e a barba feita, embora que entre os plebeus houvessem homens que usassem bigodes e barba, mas os cabelos longos não eram habituais entre os romanos. Para eles, a aparência dos celtas ajudava a corroborar sua ideia de serem bárbaros. Homens que deixavam os cabelos crescer e não se barbeavam com regularidade, não tinham aspecto de "civilizados".


O vestuário


A forma como os celtas se vestiam fora inicialmente uma outra maneira para conceber nestes por parte dos romanos e dos gregos a identidade de bárbaros. Homens e mulheres usavam túnicas (léine) geralmente feitas de linho ou de lã. No caso dos nobres alguns chegavam até mesmo a usarem roupas de seda, produto este vindo da Ásia Menor. Dependendo do lugar as túnicas poderiam ter mangas curtas, longas ou não terem mangas. As túnicas dos homens iam até a altura dos joelhos, já as das mulheres eram mais longas, chegando aos tornozelos.

As túnicas eram presas por um cinto ou cinta (criss). Homens e mulheres também usavam uma pequena capa (brat) geralmente feita de lã e em formato retangular. Além dessas capas curtas eles também usavam capas longas e outros tipos de tecidos nos quais usavam para formar capas ou laços nas roupas, os prendendo com alfinetes feitos de bronze. As mulheres também usavam vestidos e no caso dos homens esses também usavam calças (bracae). Os celtas calçavam sandálias e sapatos. Políbio diz que os celtas usavam roupas coloridas, diferentes das roupas unicolor geralmente usadas pelos romanos e gregos.

No caso dos trajes militares, pelas descrições que temos de Políbio, Dionísio e Estrabão, a maioria dos guerreiros celtas (pelo menos os que lutaram na Itália), usavam apenas calças e sandálias. Alguns usavam as capas curtas, mas  em geral lutavam sem camisa (claro que durante épocas frias, eles usariam blusas). No caso dos líderes, esses ou se trajavam iguais a seus soldados, ou usavam túnicas, calças, e até mesmo cotas, além de elmos. Em alguns casos os soldados também usavam túnicas e calças, e num caso mais específico, os gaesatae (lanceiros) lutavam nus.


Desenho retratando guerreiros celtas da Gália.

Estrabão e Diodoro relatam que os celtas gostavam de usar adornos como braceletes, anéis, colares, brincos e broches. No caso dos homens, estes usavam braceletes feitos de bronze, ferro, ouro ou prata, além de usarem anéis e colares, sendo que em especial havia um colar chamado torque, no qual era apenas usado pelos homens, sendo feito geralmente de ouro, bronze e as vezes de ferro e prata. Os historiadores acreditam que o torque seja de influência asiática, pois os persas utilizavam colares similares, possivelmente os celtas devem tê-lo visto a partir de algum povo do leste europeu que tinha contato com os asiáticos. Os homens não tinham costume de usarem brincos.


As mulheres também usavam diademas. No entanto, posteriormente as mulheres também passaram a usar o torque, como atestam tumbas de rainhas ou mulheres nobres que foram sepultadas utilizando tal colar. Além disso, sabe-se que o torque também era retratado como sendo um adorno utilizado pelos deuses celtas.

Um torque em ouro. Os torque eram colares usados apenas pelos homens celtas de algumas. Embora que nem todos os povos celtas faziam uso dele. 

No caso dos romanos, o fato dos celtas usarem calças era algo que lhe condizia com a identidade de bárbaros. Pois os povos que viviam nas orlas do Mediterrâneo não tinham o costume de usarem calças, eles usavam túnicas, saias, etc. Logo, era atribuído pelos romanos apenas os povos que viviam para o interior do continente o fato de usarem calças e nesse caso, para eles todos esses povos eram bárbaros. E o ato dos gaesatae lutarem nus, era ainda mais um indício para os romanos que tais homens eram bárbaros.

Organização social

Júlio César em seu Comentários sobre a Guerra da Gália, escreveu que a população gaulesa se dividia em três classes: os druidas, os quais formariam uma espécie de classe sacerdotal; os cavaleiros (equits) que seriam os nobres; e os plebeus, os quais seriam o restante da população. Evidentemente César fizera essa descrição julgando os gauleses a partir da ideia de divisão social que ele possuía dos romanos.

Entretanto a divisão social dos gauleses e dos demais celtas não fora tão diferente assim como César supôs. A respeito da realeza muito se desconhece, sabe-se que reis celtas foram predominantes entre as tribos insulares (bretões, irlandeses e escoceses) porém entre os gauleses, celtiberos e gálatas, pouco se conhece a respeito de reis e rainhas. Acredita-se que por volta do século IV a.C os reis celtas das tribos do continente, foram substituídos por uma aristocracia que conquistou poder através da guerra e da posse de terras, pois entre os celtas nunca houvera uma identidade nacional de um Estado unificado, na realidade o que chamamos de Gálias, Celtiberia, Bretanha, Galácia, etc., eram regiões onde habitavam várias tribos celtas e cada tribo possuía seu líder.

Mas embora se desconheça a existência de uma realeza celta antiga, pois na Irlanda, ilha na qual a tribo dos bretões colonizou, chegaram a se formar pequenos reinos como o próprio Powell (1974) atesta. De qualquer forma a estrutura social dos celtas era baseada no patriarcalismo e em núcleos familiares (fine), pois muitos dos celtas viviam em vilas ou em aldeias, pois as cidades celtas ainda eram poucas. Havia também a existência de fortes ou fortalezas, essas eram mais comuns na Gália. As vilas célticas na Irlanda eram chamadas de túath, onde cada um possuía seu líder e de certa forma cada família possuía direitos e deveres. Em alguns casos, o túath poderia conter um forte, onde viveria a nobreza ou a família aristocrata governante.

Ilustração de uma aldeia celtibera.

No caso dos celtas-irlandeses, cada família de um túath era responsável por cada membro de sua família. Se algum membro da família comete-se algum tipo de crime ou desfeita, era atribuída a culpa a toda a família e a mesma deveria providenciar a punição do culpado ou a recessão sobre os danos. Além disso, Powell diz que entre os celtas independente de sua posição social, existia o chamado "preço de honra" (lóg n-enech), onde era medida a dignidade desse indivíduo e sua fortuna, pois a fortuna de um homem era algo importante em algumas sociedades celtas, pois embora um homem pudesse ser justo e honesto, ele deveria possuir uma fortuna razoável para se ver em uma posição confortável em sua sociedade.

Para se entender melhor essas questões sobre a estrutura social dos celtas, a mesma basicamente poderia ser dividida nas seguintes classes, embora houvesse diferenças entre alguns povos celtas:


  • Druidas
  • Nobreza
  • Aristocracia
  • Plebe
  • Escravos


Os druidas como será visto mais especificamente a frente, formavam uma classe ou grupo ligado as questões religiosas mas também a tradição, estando ligados a questões políticas e judiciais, embora nota-se que os druidas necessariamente não cuidassem de questões do governo propriamente. A nobreza advinha de antigas linhagens as quais chegaram a se ramificar, gerando outras tribos; por sua vez a aristocracia poderia ser formada tanto por nobres ou por famílias que ganharam poder através da guerra ou por alianças. Os plebeus seriam o restante da população, agricultores, pastores, artesãos, comerciantes, soldados, etc., por fim havia os escravos.

Entre os celtas havia também a prática da clientela (célsine), prática esta também realizada pelos romanos, porém no caso dos celtas a clientela era diferente. Enquanto entre os romanos, os clientes (céle) eram plebeus que procuravam oferecer seus serviços a um patrício ou a fim de pagarem alguma dívida se sujeitavam ao trabalho para essa pessoa, ao mesmo tempo, os clientes romanos perdiam o direito a propriedade e tinham o direito de liberdade restrito. No caso dos celtas a clientela não seria uma "prestação de serviço" como visto entre os romanos, mas sim uma aliança. Plebeus e aristocratas poderiam ser clientes de outros aristocratas, nobres e até de plebeus, no caso de plebeu para plebeu.

Nesse caso, a clientela era um acordo de ajuda onde um homem recorria ao apoio de outros para resolver determinada questão. Geralmente a clientela estava ligada a questões militares, no entanto, embora se fosse para prestar outro tipo de serviço, o cliente manteria seus direitos a propriedade e a liberdade, e terminado seu trabalho ele receberia uma recompensa ou pagamento.

A clientela também poderia ser feita para saudar o "preço de honra" ou pagar uma fiança, dívida ou até mesmo um resgate. Powell conta que houve um caso que uma tribo de celtas atacaram os romanos na Província, região que os romanos conquistaram no sul da Gália, porém tal tribo fugiu, então os romanos cobraram de outra tribo celta que integrassem os culpados, mas devido a dívida de honra e as alianças entre tais tribos, ambas se puseram contra os romanos.

A respeito da escravidão não se sabe muito a respeito de como essa procedera entre os diferentes povos celtas. Sabe-se que os gauleses comercializavam escravos com os romanos, mas geralmente os escravos eram prisioneiros de guerra, sendo estes provenientes de outros povos ou de tribos mais afastadas.

A família

Pelo fato de viverem em tribos, os laços familiares eram bem mais próximos. A maioria dos celtas viviam da agricultura e da pecuária, logo toda a família ajudava na lavoura e no cuidado dos animais. Cada família possuía suas próprias propriedades que eram passadas hereditariamente. Sabe-se que na Irlanda, as mulheres também tinham direito a posse da terra, pois nos casamentos, as noivas possuíam parte do dote, sendo esse dote representado pelo seu direito por terras, embora fosse uma fração pequena, já era um progresso para o direito da mulher.

Além disso, como já fora dito, a sociedade era patriarcal, logo o chefe da casa era responsável por todos e pelo nome e honra de sua família em sua comunidade. Um fato a mencionar é que não se sabe ao certo se a propriedade da terra era coletiva ou privada, pois o direito de posse que as famílias tinham sobre a terra, era o direito de nelas trabalhar, mas não para acumularas e deixá-las "ociosas"; sabe-se também que a aristocracia parecia também não ter direito sobre tais terras, no sentido de a ela tais terras pertencerem. Mas ao mesmo tempo as terras não seriam coletivas, os historiadores acreditam que os celtas empregassem um sistema misto como visto entre alguns povos asiáticos.

Numa tribo, cada família possuía suas responsabilidade; para via de exemplo, se houvessem artesãos, estes trabalhariam em sua especificidade, se houvessem soldados, estes serviriam, se houvessem agricultores e pastores, estes iam trabalhar no campo, e assim por diante. Todos possuíam deveres e direitos. No caso dos direitos, Powell aponta que as leis celtas eram transmitidas oralmente e eram debatidas pelos senhores de cada comunidade, em alguns casos, os druidas faziam a transmissão dessas leis, pois a eles estava associado a preservação e continuação dos saberes dos antepassados. Na Irlanda por volta do século V d.C, já existiam "escolas de Direito", onde os filhos da nobreza e da aristocracia iam estudar para se tornarem juristas.

Um ponto interessante a mencionar que chamou a atenção de Júlio César fora o fato de que ele disse que os pais celtas não mostravam seus filhos publicamente a não ser que estes fossem maiores de idade. César não soube explicar isso. Porém, historiadores apontam que entre os irlandeses, pelo menos entre famílias mais abastadas, havia a prática de se enviar os filhos para viverem com pais adotivos, de preferência famílias mais ricas que as suas, de forma que pudessem conceder uma boa educação para seus filhos.

Segundo Powell seguindo esse costume irlandês antigo, as mulheres viveriam na casa de famílias adotivas até os 14 anos, quando as mesmas retornavam para casa de sua família a fim de começar a se procurar um marido para ela. No caso dos homens, estes retornavam para o lar aos 17 anos, quando atingiam a maior idade. Porém Powell lembra que tal conduta não era unânime a todas as tribos e povos celtas, mas especificamente aos irlandeses.

Agricultura, pecuária e comércio

Basicamente os celtas viviam da agricultura e da pecuária, no entanto dependendo da região, eles poderiam ser mais agrícolas ou mais pecuaristas. Na Irlanda e na Escócia, os celtas eram mais pecuaristas devido ao clima frio destas terras, que prejudicava o cultivo de certas culturas. Os celtas costumavam criar vacas, cabras, ovelhas, porcos e cavalos. E tinham cães como animais de estimação. Além disso, as aldeias e vilas que ficavam próximo a rios, lagos e do mar, eram fontes de pescado.

Os celtas também caçavam, quando havia abundância de caça (javalis, patos selvagens, faisões, cervos, etc). Diferente do que vemos nas histórias em quadrinhos de Asterix, onde os gauleses se fartavam em banquetes com carne de javali, na realidade, os gauleses preferiam mais carne de porco (principalmente assada ou cozida em um grande caldeirão), pois nem sempre era fácil se caçar javalis ou encontrá-los, pois a caça excessiva reduziu as populações ou as fizeram migrar para outras regiões.

Na Gália, o cultivo do trigo e da cevada eram a base da alimentação gaulesa. Do trigo faziam o pão e da cevada a cerveja. Eles também consumiam frutas, alguns outros tipos de plantas que poderiam encontrar na floresta, e até mesmo cogumelos. Bebiam leite de vaca e de cabra e se fosse o caso até de égua. Fabricavam queijo e manteiga.

Os celtas também praticavam o comércio há vários séculos. Pelo fato de terem sido grandes ferreiros e o povo responsável pela difusão da metalurgia à base de ferro na Europa Central e Ocidental, os celtas por muito tempo chegaram a comercializar bronze, ferro, estanho e outros metais com os gregos, romanos, etruscos e até com outros povos do leste europeu. Os celtas comercializavam tanto os metais puros como também objetos de metais, pois a arte celta era uma das mais avançadas da Europa Central. Além disso, eles também comercializavam cerâmicas e escravos.


Cerâmica celta do estilo Hallstatt, encontrada em Heuneburg, Alemanha.

Por longos séculos o comércio da maioria dos povos celtas fora feito a base de escambo (troca de mercadorias) mas por volta do século III a.C na Gália surgiram as primeiras moedas conhecidas, estas feitas de ouro e baseadas no modelo das moedas de Alexandre, o Grande. Também foram encontradas moedas de bronze no sul da Bretanha e moedas de prata na Aquitânia. No entanto, nem todas os povos celtas faziam uso dessas moedas, pois os principais exemplares foram encontrados entre os territórios das Gálias e da Bretanha.


Moedas celtas de prata.

Além de vender mercadorias, os celtas, principalmente as famílias mais ricas comprovam muitos produtos que seriam considerados como artigos de luxo. O vinho como atesta Powell era um desses produtos. Foram encontradas em tumbas datando do século VI a.C na parte leste da Gália (hoje França) tumbas contendo jarras de vinho vindos da Grécia. Embora grande parte da população bebesse cerveja, o vinho era uma bebida rara naquelas terras, pois os celtas desconheciam o cultivo da uva, logo este era importado. Além do vinho, eles também compravam tecidos, joias, ouro, prata, cerâmicas ornamentadas vindas da Grécia e de Roma, etc.


Uma tigela com adornos em ouro. Datada do século V a.C do estilo La Tène.

As moradias

As moradias celtas variavam de região para a região. Na Celtiberia na Espanha, os celtiberos costumavam construir casas em formato circular ou ovoide. Nas Gálias, as casas tinham um formato mais retangular. Na Bretanha e na Irlanda podia-se se encontrar ambos os formatos. No entanto, essencialmente a casa das famílias comuns, tinha apenas um cômodo, o qual era sala, cozinha e quarto. Porém, as casas dos ricos eram bem maiores, e na Bretanha e Irlanda chegaram a se encontrar vestígios de casas com vários cômodos e até mesmo com primeiro andar.

Ilustração de uma casa celta.

A maioria das casas eram feitas de madeira, porém se houvesse a disponibilidade de pedras, elas eram feitas de pedras. A maioria das casas nas Gálias, Bretanha e Irlanda eram feitas de madeira. Na Celtiberia nota-se um maior número de casas de pedras em determinadas regiões. O telhado era feito de madeira e revestido com palha, peles de animais, ou outro tipo de tecido mais grosso. Na Irlanda e na Escócia, se encontravam telhados revestidos com húmus ou terra, pois ajudava a preservar o calor durante as épocas frias. Na Bretanha muitas casas possuíam um depósito no chão, o qual consistia num buraco para armazenar cereais.

"Um aspecto notável de alguns dos centros de povoamento agrícola celtas, que não podemos deixar passar em claro, era o do uso de fundos poços para armazenagem, espécie de silos, cavados sob o solo da casa ou do recinto da habitação. É de crer que estes poços tivessem sido aproveitados principalmente para armazenagem de cereais, e, pelos menos na Grã-Bretanha, eram revestidos de esteira de vime e serviam apenas por algumas estações, devido aos efeitos da umidade. Depois enchiam-nos de entulho e terra e abriam outros". (POWELL, 1974, p. 95).

Powell conta que os celtas faziam as refeições geralmente sentados no chão, . Eles se sentavam sobre peles ou tapetes, em círculos, em torno de uma mesa baixa, onde era posto a comida em pratos e travessas. Comia-se com as mãos. No entanto, em outras regiões, os celtas faziam as refeições sentados em cadeiras ou bancos e em mesas mais altas. Em alguns casos, mesas e bancos eram postos no lado de fora, e toda a aldeia ia participar de um jantar coletivo, com música e dança. Os celtas eram conhecidos por apreciarem a música, a poesia e a dança. Tais festas eram mais recorrentes nos períodos de celebrações religiosas, em casamentos ou nas celebrações de vitórias militares.

Júlio César descrevera que os celtas não possuíam hábitos à mesa, comiam como verdadeiros bárbaros, arrancando pedaços de carne vorazmente, arrotando, falando alto, cuspindo, etc.

Porém, um fato a salientar é que os celtas tinham o costume de que quando uma visita chegava em sua casa ou tribo, oferecia-se água ou cerveja e comida, depois que o visitante estivesse alimentado, eram feitas as perguntas sobre sua procedência e sua intenção naquele lugar.

A arte

Fala sobre a arte celta é um assunto bem abrangente pois envolve vários séculos, no entanto devido a limitação de minhas fontes e a iniciativa deste texto em particular, farei uma explanação geral de como era a arte celta antes da total conquista romana. 

A arte celta basicamente se divide em quatro fases:

  1. Estilo da Cultura de Hallstatt (900-500 a.C)
  2. Estilo da Cultura de La Tène (500 - ca. 50 a.C)
  3. Estilo romanizado: continental e insular (séc. I ao V d.C) 
  4. Estilo medieval insular: irlandês e bretão (séc. V ao ca. X)  

Todavia deve-se ressalvar que pelo fato de os Povos Celtas terem habitados distintas regiões do continente, não significa que eles tivessem o mesmo estilo artístico. A cronologia mencionada acima, refere-se mais as tribos gaulesas e insulares (bretões, irlandeses e escoceses), pois são os povos de quem mais possuímos informações. Além disso, dependendo da localidade das tribos, essas sofriam influência regional, tal fato é evidente que a arte celta da Cultura de La Tène sofrera influência da arte grega, etrusca, romana e cita.

O estilo da cultura de Hallstatt marca o início do começo da arte celta, onde os trabalhos em metais e outros matérias como a pedra e a madeira ainda estão sendo desenvolvidos, porém, já no final desse estilo nota-se um grande avanço na ourivesaria e na metalurgia. Na arte das cerâmicas, o estilo geométrico ainda era predominante com formas as vezes irregulares e tracejadas. 

Cerâmica celta do estilo Hallstatt.

Durante o período La Tène o qual fora bem influente sobre as Gálias, a Bretanha e a Europa Central, a ornamentação da cerâmica e a forma das estátuas sofreram mudanças bem significativas. Se antes o estilo das cerâmicas era basicamente geométrico, agora nota-se desenhos de animais, de paisagens, de pessoas, de seres mitológicos, nesse caso revelando uma influência da arte cita da Ásia e da arte etrusca e grega. No caso das estátuas tanto em pedra quanto e madeira, embora sejam poucos seus remanescentes hoje em dia, a influência do modelo grego é bem visível e posteriormente do modelo romano seria ainda maior, pois os romanos governariam tais povos por  quase cinco séculos.

Vaso celta do período La Tène. Nota-se as figuras e animais e outros desenhos na cerâmica, em contra-parte as formas geométricas comuns do período anterior. 

Nos ornamentos feitos de metais preciosos ou em bronze e ferro, o estilo se tornou mais detalhado e trabalhado, formas, curvas, o incremento de pedras preciosas, passou a ser visto entre os tesouros descobertos nas tumbas. Até mesmo estátuas, pelo menos bustos em bronze e ouro fora descobertos, e nesse caso a influência do estilo greco-romano era marcante. 

Caldeirão de prata do estilo La Tène. 

Porém, quando chegamos a Irlanda e a Bretanha no período medieval, a literatura celta começa a surgir e a ganhar mais espaço, e graças a ela a poesia e a música puderam ser preservadas, pelo menos no caso irlandês.  Entretanto, como minhas fontes não me permitem seguir por esse caminho, encerrarei por aqui essa breve explanação. 

Religião e mitologia

A mitologia celta ou céltica fora uma mitologia bem abrangente geralmente dividida em três categorias: goidélica: Irlanda e Escócia; britânica insular e céltica continental. O problema é que como os celtas compreendiam vários povos, cada povo celta possuía seus próprios deuses, embora houvessem alguns deuses em comum. Além disso, haviam deuses tribais e locais, logo cada tribo celta, acreditava possuir seu próprio deus protetor (nesse caso, a figura masculina seria a guardiã das tribos, por sua vez a figura feminina estaria associada a natureza), por vez, alguns locais naturais como montanhas, rios, lagos, árvores, cavernas, etc., poderiam ser o lar de deusas. Hoje conhece-se mais de 200 nomes de deuses celtas, no entanto, alguns historiadores têm dúvida se tais nomes seriam nomes próprios de divindades específicas, ou seriam epítetos ou outro nome para um mesmo deus ou deusa. 

Outro aspecto que marca a mitologia celta, é que a mesma não era tão coesa como a dos gregos e dos romanos, os deuses celtas necessariamente não possuíam atributos específicos como visto entre os deuses greco-romanos, daí Powell dizer que quando os romanos quiseram assimilar os deuses celtas-gauleses, no intuito de identificá-los a Júpiter, Marte, Apolo ou Mercúrio, curiosamente o mesmo deus celta poderia ser comparado a dois deuses romanos. Alguns deuses celtas poderiam ter vários atributos e as vezes nem sempre é claro saber qual sua verdadeira atribuição, pois muito da religião celta se perdeu na história, os melhores relatos que temos vem principalmente dos irlandeses, dos escoceses, dos galeses e dos romanos. 

A religião celta antiga era de caráter politeísta, animista, dualista (masculino e feminino), naturalista (no sentido de está muito ligada a natureza e suas mudanças), uma religião ligada a magia, a qual era vista como um poder que emanava do espírito e dos deuses percorrendo o mundo e todos os seres vivos e elementos que nele existissem; acreditava em vida após a morte, em reencarnação (pelo menos por parte do druidismo), embora que não se tenha conhecimento de como era concebida a vida após a morte, os túmulos encontrados, revelaram alimentos e bebidas enterrados como oferendas ao morto, possivelmente na ideia de que o mesmo precisaria de mantimentos para poder seguir viagem até a "outra vida". 

Todavia sabe-se que os celtas possuíam uma forte ligação com a natureza. Antes dos romanos os conquistá-los, os celtas não construíam templos propriamente para seus deuses, a maioria das celebrações, ritos e festas eram feitos ao ar livre, geralmente em bosques sagrados, e em alguns casos em cavernas ou em tumbas. Alguns historiadores e arqueólogos consideram as tumbas e algumas estruturas simples com pilares e um telhado como tendo sido templos. 

Dependendo do povo, os festejos poderiam ser ligados aos ciclos da agricultura como visto entre os gauleses ou ao ciclo do pastoril como visto entre os irlandeses. O ciclo de pedras chamado de Stonehenge na Inglaterra é um dos locais de culto mais antigos conhecidos pelos antigos celtas. Por muito tempo pensou-se que os druidas foram os responsáveis pela construção de Stonehenge, data de pelo menos 4.500 anos atrás. 

"Uma forma muito generalizada parece ter sido a do bosque sagrado, ou extensão de terreno em que cresciam tufos de árvores. Julga-se ser esta a implicação geral do vocábulo nemeton, que está amplamente distribuído em topônimos por todas as terras onde passaram celtas. Alguns exemplos são Drunemeton, o santuário e centro de reunião dos Gálatas da Ásia Menor, Nemetobriga, na Galiza espanhola, Nemetacum, no território dos Atrébatas do Nordeste da Gália, e Nemetodurum, de que derivou o nome moderno de Nanterre. Na Grã-Bretanha havia no Notthinghamshire um lugar Vernemeton, e no Sul da Escócia um Medionemeton". (POWELL, 1974, p. 143-144).

Muito dos bosques sagrados ficavam em áreas que haviam muitos carvalhos, pois o carvalho é uma árvore sagrada para vários antigos povos europeus, incluindo os germanos, poloneses, lituanos, russos, vikings, eslavos, etc. A própria palavra druida significa ("sábio carvalho"). Júlio César diz que na Gália havia um local sagrado onde os druidas costumavam reunir-se, esse local era chamado de Bosque dos Carpetos

Acerca dos rituais antigos, os mais conhecidos advêm da literatura irlandesa, onde alguns dos principais festejos eram:

  • Samain: Celebrado no dia 1 de novembro era a festa de Ano Novo. Além disso, alguns dos animais eram sacrificados na ocasião. No ritual também entoavam músicas, cantos e se dançava. Na ocasião os celtas celebravam a vinda do novo ano e a união entre o deus tribal, geralmente chamado de Dagda com uma deusa da natureza, geralmente chamada Morrigan, a Rainha dos Demônios. 
  • Beltine o Cétshamain: Celebrada em 1 de maio marcava o início da estação quente e do crescimento do pasto, logo era a época na qual o gado voltava a pastar para engordar até o próximo inverno.
  • Imbolc: Celebrada em 1 de fevereiro pouco se sabe sobre esta festa. Sabe-se que sua celebração estava ligada as ovelhas.
  • Lugnasad: Celebrada em 1 de agosto, tal festejo estava ligado a agricultura e ao deus Lug, um dos mais conhecidos deuses do panteão céltico. 

Ilustração em prata do deus Dagda.

A respeito dos deuses celtas, alguns dos principais deuses que se conhece estavam: Dagda, considerado por alguns historiadores como sendo um deus específico em si, ou talvez era um nome genérico que os celtas insulares usavam para se referir ao deus de sua tribo. Dagda ora é representado como um homem velho, de barba branca e de semblante gentil, ora é representado como um forte guerreiro, armado com clava, tendo um caldeirão e as vezes era representado possuindo um enorme pênis, possivelmente tal ideia esteja ligada a um atributo de virilidade ou fertilidade.



Uma das principais deusas adoradas entre os irlandeses, e as vezes associada como sendo esposa de Dagda era a deusa Morrigam, a qual é difícil de classificar seus atributos. Morrigam as vezes era associada a guerra, a noite, aos mortos, ao medo, a lua, ao misterioso, a magia, pois as vezes se transformava em alguns animais como lobos, corvos e enguias. Morrigam recebia os epítetos de Nemain ("Pânico") e Badh Catha ("Corvo da Batalha"). Em alguns relatos diz-se que ela possuía duas irmãs, as deusas Macha e Medb, porém, alguns historiadores questionam se tais deusas seriam outras pessoas, ou seriam nomes diferentes para Morrigam, lhe concedendo outros atributos, tal fato é visível entre os hindus, onde o mesmo deus pode ter vários nomes. Alguns consideram que Morrigam, Macha e Medb formam uma tríade, algo comum entre os celtas, pois existem estátuas de deuses e deusas com duas faces e três faces, simbolizando três personalidades de uma mesma divindade. 

Ambos os deuses Dagda e Morrigam, eram mais cultuados entre os celtas insulares (bretões, irlandeses e escoceses), entre os gauleses temos os deuses Belenus, considerado o deus do sol; Taranis, era associado ao sol, ao céu, raios e trovões; seu símbolo era a roda de oito raros, um símbolo bem difundido entre os gauleses. Toutatis, era associado a guerra, porém estava associado a proteção do lar, da tribo. Alguns historiadores questionam se Toutatis era um deus específico ou o nome de um outro deus, ou um termo genérico para um deus tribal. Eusus, é um deus que hora fora associado a guerra e hora a proteção da natureza, no entanto, junto com Taranis e Toutatis forma uma das mais famosas tríades de deuses cultuadas entre os gauleses e os bretões. 


Uma deusa que fora bem difundida entre os celtas, especialmente os gauleses fora a deusa dos cavalos chamada Epona (literalmente "Grande Égua"). Embora Epona fosse a protetora dos cavalos ela possuía outros atributos ligados a agricultura, o pastoreio, a natureza, a fertilidade, etc. Fora uma das principais deusas a serem cultuadas pelos romanos, durante a época imperial. Imagens da deusa foram encontradas em templos romanos pela Itália, e até mesmo templos foram construídos na Gália pelos romanos para o seu culto. O culto de Epona pode ter sido associado ao culto das deusas romanas Cibele (deusa da natureza) e de Ceres (deusa da agricultura), no entanto, seu nome mantivera intacto, e até mesmo fora lhe designado epítetos romanos e um feriado, o qual era celebrado no dia 18 de novembro. Epona também se tornou a deusa protetora da cavalaria romana e até mesmo esteve associada aos imperadores. 

Outro deus conhecido entre os celtas era Lug, embora que esse diferente de Epona e outros deuses e deusas celtas não foram assimilados pelos romanos, pelo contrário, os romanos passaram a identificá-los com seus deuses, e tentar converter seus cultos para os cultos dos deuses romanos. 

"O deus Lug é descrito nos tratados mitológicos como um recém-chegado à sociedade dos seres divinos irlandeses. Também ele era um deus tribal, mas de carácter menos arcaico do que os outros; as suas armas eram diferentes e o seu epíteto (samildánach) indica-o mais como senhor de todas as habilidades em particular do que do conhecimento geral. O seu nome, é claro, reconhece-se bem em Lugudunum, a moderna cidade de Lião, e certo número de outros nomes de cidades do continente". (POWELL, 1974, p. 123). 

Pintura retratando o deus Lug, um dos mais populares deuses celtas entre os irlandeses, bretões e gauleses.

A história da vida de Lug ou Lugh é bastante narrada no conjunto de textos irlandeses chamado Tuatha Dé Dannan ("Povos da Deusa Danu"), consiste numa série de histórias que falam a respeito da colonização da Irlanda pelos Tuatha Dé Dannan; a formação de tribos célticas e da cronologia e genealogia dos deuses. Entre as várias histórias que narram as proezas do deus Lug e outros deuses, diz-se que Lug era um homem prodigioso e de grande talento, o mesmo fora desafiado várias vezes a realizar distintos tipos de ofícios e os cumpriu de forma magistral.

Retomando a questão dos rituais, vestígios arqueológicos encontraram restos de ídolos em pedra, alguns até em madeira mas em péssimo estado de conservação, além de tumbas, túmulos e pilares.

"Encontra-se ainda outro tipo de monumento relacionado com o culto que merece também uma breve notícia. No Cento de Espanha e no Norte de Portugal, e geralmente associado a castos de tribos celtas ou parcialmente celas, encontraram-se grandes esculturas em pedra de varrões e touros. A inspiração para estas escultura é provavelmente mediterrânica, mas a finalidade servia aos fins dos Celtas, pois parece terem tido relação com a fertilidade e prosperidade dos rebanhos e achavam-se situadas em cercados para o gado, ou em posições que os dominavam, logo abaixo das próprias cidadelas. No Norte de Portugal encontram-se também esculturas de guerreiros armados, que parece terem servido, igualmente, de ídolos protectores". (POWELL, 1974, p. 152).

Encontraram-se vários ossos de animais como vacas, carneiros, ovelhas, cabras, cavalos e até mesmo cães. Parece que além de sacrifícios de animais os celtas também realizavam sacrifícios humanos. Existem algumas histórias irlandesas antigas que falam de rituais onde pessoas eram sacrificadas para "apaziguar" a ira dos deuses, geralmente durante um período de fome, seca, inverno rigoroso, peste, etc. Entretanto, não existe um consenso se o ato do sacrifício humano fosse algo comum entre todos os povos celtas. 

Lucano (39-65), poeta romano, dizia que os sacrifícios humanos eram feitos de três formas: cremação, afogamento e enforcamento. Segundo o seu relato, as vítimas sacrificadas ao deus Toutates eram afogadas, as vítimas de Esus eram enforcadas e as de Taranis eram queimadas. Júlio César relata que os escravos eram queimados juntos com seus mestres quando estes morriam, e que os druidas realizavam um sacrifício humano chamado de "homem de vime", onde com vime (pedaços do vimeiro) construía-se uma espécie de "gaiola" com forma humana, então as vítimas do sacrifício eram aprisionadas dentro dessa "gaiola", e eram queimados vivos.

Gravura do século XVIII retratando o chamado "homem de vime" (wicker man) no qual vítimas eram queimadas vivas em sacrifícios celtas. 

Os celtas também ofereciam oferendas votivas para seus deuses. As oferendas votivas são oferendas que eram deixadas em locais sagrados ou próximos a estes. Júlio César e outros historiadores romanos falam a respeito dessa prática dos celtas. César diz que armas, escudos, elmos, armaduras e outros espólios eram jogados em rios, lagos, ou deixados em bosques ou outros locais sagrados. Estrabão citando Possidônio (o mesmo chegou a viajar pela Gália no século I a.C), diz que joias, barras de ouro e prata, cerâmica, vasos, comida e bebidas também eram ofertados. Na Bretanha do início da Idade Média, haviam histórias sobre espadas mágicas que haviam sido jogadas em lagos e rios. 

"A referência de Possidônio a lagoas sagradas, o que também pode significar charcos ou pântanos, tem um particular interesse devido a certo número de descobertas arqueológicas para as quais não há melhor interpretação que como depósitos votivos". (POWELL, 1974, p. 153). 

Pouco se sabe como eram as celebrações destes ritos e festejos mais antigos, mas sabe-se que haviam alguns ritos que eram realizados apenas pelas mulheres, uns eram celebrados durante o dia, outros eram feitos durante noites de lua cheia ou lua nova, envolvendo fogueiras, caldeirões, sacrifícios, libações, etc. Tais ritos foram visto pelos cristãos como sendo práticas de bruxaria, e tais mulheres e homens que as realizavam foram perseguidos como sendo bruxas, feiticeiras, magos e bruxos. 

Para encerrar essa parte acerca da religião e da mitologia, assuntos que rendem livros próprios para se debater o assunto do que um breve relato como esse, falarei a respeito de uma figura curiosa e ainda misteriosa da religião e da sociedade céltica, os druidas. 

"A palavra 'druida', tal como é usada nas línguas europeias modernas, deriva do céltico continental através dos textos gregos e latinos. César, por exemplo, refere-se a druides e Cícero a druidae. Ambas são, é claro, formas latinizadas do plural. Nas línguas célticas insulares que ainda sobrevivem drui (sing.) druad (plur.) são formas da mesma palavra tiradas de tetos em irlandês antigos. O equivalente galês no singular é dryw. Como palavra considera-se que druida deriva de raízes que significam 'sabedoria do carvalho', ou possivelmente 'sabedoria grande' ou 'sabedoria profunda'". (POWELL, 1974, P. 160). 


Gravura de dois druidas.

Falar a respeito da hierarquização dos druidas, de como eles trabalhavam e atuavam nas sociedades celtas bretãs, irlandesas e gaulesas é uma tarefa bem difícil, pois os ensinamentos do Druidismo, religião ensinada pelos druidas eram passados oralmente; os romanos e os gregos nada escreveram sobre esses ensinamentos, apenas relatam o que viram e ouviram acerca desses homens e mulheres, pois entre a classe dos druidas haviam as druidesas

A respeito dos textos irlandeses, os primeiros relatos que achamos sobre os druidas e as druidesas datam do século VIII, já no período medieval, logo, historiadores como Powell e Ronald Hutton, dizem que praticamente nada sabemos sobre os druidas, pois ao longo da História muita coisa se perdeu e fora deturpada. Powell chama a atenção que durante a Idade Média e a Idade Moderna, os druidas ganharam um caráter semilendário, começaram a surgir histórias um tanto "fantasiosas" sobre suas pessoas.

A druidesa, pintura de Alexandre Cabanel.

Sabe-se que os druidas se organizavam em uma hierarquia embora se desconheça muita coisa a respeito de como era essa hierarquia e cada grau ou nível que se dividia e suas funções especificamente. Pela internet encontra-se vários textos a respeito, no entanto, muitos não são confiáveis, pois como fora dito muito fora inventado ao longo desses dois mil anos, ou até mesmo distorcido. 

Os druidas e as druidesas além de terem uma função sacerdotal e ritualística, eles também eram magos e magas, pois a magia era um elemento profundamente encrustado na religião celta como fora visto anteriormente; atuavam como juízes, professores, filósofos, curandeiros, conselheiros, poetas,  e até mesmo como videntes e profetas, etc. A questão da poesia necessariamente não era apenas arte, mas também estava ligada ao ensino; contar histórias através de poesia era transmitir os antigos ensinamentos, pois o conhecimento e a sabedoria druídica eram transmitidos oralmente. 

Além do ritual do "homem de vime" relatado por César, o historiador romano Plínio, o Velho (29-79) falara a respeito do ritual do carvalho e dos visgo, o qual era realizado pelos druidas, o que incluía o sacrifício de dois touros brancos. 

Pelo fato de estarem associados a magia e ao curandeirismo, muitos druidas e druidesas possuíam conhecimentos botânicos e medicinais, e alguns sugerem que até mesmo alquímicos, embora nesse último caso, não se tem certeza. Os druidas também provavelmente teriam conhecimentos sobre astronomia e astrologia, pois entre os povos antigos era comum muitas questões religiosas estarem associadas ao movimento e posição dos astros. Todavia nada se sabe que ensinamentos eram realmente estes e como eram transmitidos. Segundo, Júlio César, os druidas eram ensinados em locais sagrados e escondidos, as vezes poderiam ficar vários anos estudando até deixarem de serem aprendizes e se tornarem druidas em si. César chegou a dizer que eles poderiam levar até 20 anos estudando, no entanto, não se tem como corroborar tal afirmação. 

A respeito das pessoas indicadas para se tornar aprendizes, também não se sabe como os homens e as mulheres eram escolhidos; não se sabe se apenas era permitido que os filhos e filhas dos próprios druidas e druidesas continuassem com esses ensinamentos, ou pessoas de outras classes poderiam serem inseridas nessa educação. 

Outro aspecto que marca os druidas é a sua retratação. Geralmente vemos imagens de homens velhos de longas barbas e cabelos brancos, usando longas túnicas brancas, presas por um cinto ou uma corda na cintura, trazendo na mão direita um cajado, e preso no cinto uma adaga ou uma foice de ouro. Entretanto, acredita-se que os druidas não se vestissem apenas de branco, mas utilizassem trajes em cores cinza, marrom, azul claro, ou até em mais de um tom, embora não se tem certeza acerca disso. Além disso haviam druidas mais jovens, possivelmente por volta de seus quarenta e cinquenta anos, logo nem todo druida seria homens velhos. 

A questão da foice de ouro também contestável, mas alguns historiadores acreditam que tal objeto fosse puramente simbólico e possivelmente dado apenas aos druidas de níveis elevados. Outro objeto ritualístico ligado aos druidas seria a varinha mágica, objeto também questionável de existência. 

Um último aspecto a ser tratado diz respeito a alguns aspectos do Druidismo. Embora os druidas cultuassem os deuses celtas, eles também possuíam seu próprio rito; sabe-se através dos relatos de Júlio César e outros historiadores romanos que os druidas acreditavam na imortalidade da alma, na reencarnação, na metempsicose (reencarnação em corpos de animais); na dualidade natural entre o masculino e o feminino, no animismo, etc.

Após a conquista da Gália, os druidas e druidesas foram perseguidos pelos romanos, pois os mesmos se opunham ao domínio romano e incentivavam revoltas contra estes. Com a ascensão do Cristianismo como religião oficial do Império Romano no século IV, a religião celta e o druidismo foram perseguidos pelos romanos agora cristianizados. Sabe-se que fora na Irlanda onde o druidismo sobreviveu por mais tempo, antes de ser praticamente esquecido da História por causa das perseguições sofridas causadas pelos cristãos irlandeses. 

A guerra

Os celtas, pelo menos muitas tribos eram bem belicosas. Os principais relatos que nós temos acerca de como os celtas lutavam e se organizavam militarmente provêm de fontes romanas e gregas. Os gauleses da Gália Cisalpina confrontaram os romanos por vários anos, e depois fora a vez dos romanos darem o troco, indo liderados por Júlio César, conquistarem as Gálias. Os celtiberos foram alvos dos cartagineses e posteriormente dos romanos. Os bretões também não escaparam da conquista romana. No caso dos gregos, tribos celtas errantes, atacaram a Macedônia e a Grécia por vários anos, e na Ásia Menor, a colônia grega de Pérgamo e outras colônias gregas combateram os gálatas (termo grego para se referir ao celtas daquela região). Para começar a falar da parte marcial, vamos relatar primeiro como eram as armas que os celtas usavam e seus trajes. Basicamente os celtas usavam espadas de ferro e lanças. Alguns usavam machados, mas o uso de arco e flecha é pouco documentado. Pelos relatos de historiadores romanos e gregos, a força do exército celta era a infantaria leve, auxiliada por uma cavalaria leve. Eles não tinham costume de levar muitos arqueiros consigo, ou utilizar infantaria e cavalaria pesada (a designação de leve e pesado advêm do uso de armas e proteção mais pesadas ou leves).

Como fora dito anteriormente no começo do texto acerca dos trajes utilizados pelos celtas, basicamente, muitos dos soldados usavam apenas calças e sandálias, e como proteção usavam elmos de bronze ou de ferro e escudos. Inicialmente os escudos eram pequenos e redondos, sendo feitos de madeira, e as vezes com reforços em bronze ou em ferro. No entanto, foram encontrados escudos feitos totalmente em bronze, ferro e até mesmo em ouro, mas estes eram utilizados pelos chefes.

Por volta do século III a.C, o escudo redondo fora substituído por um escudo mais amplo e de formato ligeiramente retangular, as vezes com as bordas arredondas. Possivelmente o modelo fora baseado no modelo do escudo das legiões romanas. Os guerreiros também usavam túnicas de linho, lã ou de peles de animais como proteção; o uso de armaduras feitas de chapas de bronze e ferro era raro, e provavelmente restrito aos chefes. Entre algumas tribos, os guerreiros pintavam os corpos com uma tinta azul.


Desenho retratando um exército celta.

A cavalaria celta no início restringia a poucos cavaleiros e a algumas bigas, onde iam o líder da tropa, munido com arco e flecha ou lanças de arremesso, enquanto o cocheiro ou auriga conduzia a biga. Porém, as bigas começaram a serem abandonadas para darem mais espaço a um maior número de cavaleiros, os quais tinham com principais armas espadas e lanças.

"Graças a Políbio e autores subsequentes, podemos fazer uma ideia da sua actuação no campo de batalha. Tomando em consideração todos os testemunhos, podemos deduzir que a finalidade primária do guerreiro sobre rodas era correr furiosamente para e ao longo da linha da frente inimiga para inspirar terror à vista, tanto lançando projécteis omo fazendo uma barulheira terrível com gritaria, toques de trompa e pancadas nos lados dos carros, que se metiam pelos flancos ou pela retaguarda". (POWELL, 1974, p. 109).

Políbio salienta dois aspectos interessantes: primeiro, ele diz que algumas tribos celtas tinham o costume de antes de se começar a batalha, eles colocavam um dos mais bravos de seus guerreiros para lutar em um duelo contra o mais forte dos guerreiros do oponente, uma espécie de rito de honra marcial, para testar a força do oponente e ao mesmo tempo insultá-lo, em caso de seu "campeão" fosse derrotado. Concluído esse duelo a batalha se iniciava.


Desenho ilustrando uma cavalaria celta.

O outro aspecto que Políbio chamava a atenção era que os celtas não possuíam uma disciplina militar assim como as legiões romanas já possuíam naquele tempo. No século I a.C as legiões romanas já eram um exército profissional, pois antes disso, os soldados eram convocados apenas quando haviam batalhas, porém a partir do final do século II a.C, os exércitos se tornaram fixos, e os soldados passaram a terem anos de serviço prestado, e a receberem um treinamento militar homogêneo. Outro fato era a questão de que os soldados romanos tinham a noção de que eles estavam servindo a pátria, a grande Roma. Já nos celtas, cada tribo lutava por si, embora se unisse com outra tribo, tal aliança era apenas para aquele momento, pois embora todos fossem celtas, não havia uma noção de identidade nacional.

Enquanto os soldados romanos eram rigorosamente disciplinados e tinham outras tarefas para fazer, os soldados celtas não eram tão disciplinados assim, e quando não estavam em guerra, acabavam por irem trabalhar em outras atividades ou se tornavam mercenários. Políbio e outros historiadores dizem que as tropas celtas eram muito barulhentas, caóticas e corriam gritando como loucos. Os gaesatae (lanceiro) iam para o campo de batalha nus, pois de certa forma sua nudez era uma afronta para os romanos e uma ideia simbólica que sua coragem era tão grande que ele ia para a luta pelado e sem proteção alguma. No entanto, nota-se que nos últimas décadas dos celtas antes da conquista romana tal costume fora sendo abandonado.

Mas se por um lado, os gritos, a nudez, a falta de disciplina eram vistos como motivos para serem chamados de bárbaros, os celtas também eram conhecidos por decapitarem seus oponentes, exibindo a cabeças destes em pontas de lanças, ou amarradas nas bigas. Em alguns casos sabe-se através de vestígios e relatos, que se os celtas saíssem vitoriosos, eles levavam as cabeças decapitadas para a aldeia onde as exibiam como troféus de guerra e até mesmo as ofereciam como oferendas em santuários. Na Bretanha, destaca-se o uso de fundas e lanças de arremesso, algo que era pouco utilizado pelas tribos do continente. Além disso os celtas insulares, também usavam vários tipos de lanças.

Políbio também narrara que os celtas quando saíam vitoriosos de uma batalha realizavam grandes festins. Nesse caso o rei ou chefe era homenageado com presentes, espólios de guerra ou de pilhagem; recebia canções ou poemas, além de se realizarem um grande banquete regado a cerveja, vinho, pão e muita carne de porco, vaca ou carneiro, acompanhado de música, cantos e danças.

"Na Irlanda considerava-se que, para um campeão, a dose por excelência era um porco inteiro, e num túmulo com carreta no Champagne achou-se o esqueleto completo de um. A dose do campeão era causa frequente de disputa e levava a combates ali mesmo, como relatam Diodoro e Ateneu e como está tão bem ilustrado nos contos irlandeses do Festim de Bricriu (Fled Bricrend) e no Conto do Porco de Mac Datho (Scéla Mucce Meic Dathó)". (POWELL, 1974, p. 114).

A respeito de mulheres na guerra pouco se sabe. Entretanto, os relatos apontam que não era uma prática comum entre os Povos Celtas deixarem as mulheres irem para o campo de batalha, tal prática ocorria entre algumas tribos na Bretanha, Escócia e na Gália. Dentre as mulheres guerreiras que são pouco conhecidas a mais famosa fora a rainha Boadiceia, Boudica ou Buddug em galês, a qual vivera no século I d.C.

Boadiceia era rainha da tribo dos Icenos na Bretanha. Os Icenos habitavam o que hoje é o atual território de Norfolk. Seu esposo o rei Prasutagus morreu por volta do ano de 59 ou 60. O rei Prasutagus havia feito um acordo com os romanos anos antes em 43 quando o imperador Cláudio transformou a Bretanha em província romana. Prasutagus e outros reis celtas acabaram se tornando "vassalos" do imperador romano, em troca manteriam certa autonomia perante o Império Romano. No entanto, o rei não deixou filhos, mas apenas duas filhas, porém em seu testamento ele concedia direito legítimo de sucessão a sua esposa e filhas.

Segundo o historiador romano Tácito o qual escreveu acerca da rainha celta, o mesmo nos conta que os romanos não cumpriram com o pedido do rei, e Boadiceia fora açoitada, afastada do trono e suas filhas estrupadas. A partir dessa traição dos romanos, Boadiceia mesmo assim tomou a frente de seu povo e decidiu iniciar uma revolta.


Ilustração retratando a rainha celta Boadiceia dos Icenos.

O historiador romano Dião Cássio (ca. 155-229) descreve Boadiceia como tendo sido uma mulher alta, de longos cabelos ruivos e de uma voz firme e potente, além de ser corajosa. Entre o ano de 60 e 61, Boadiceia reuniu algumas tribos vizinhas e partiu para confrontar os romanos, atacando cidades, acampamentos e bases, causando grandes danos aos mesmos, até finalmente ser derrotada pelas legiões do general Gaio Suetônio Paulino, então governador da Bretanha.

Música celta

A expressão música celta refere-se aos estilos populares da Irlanda, Portugal, Escócia, Galiza, País de Gales, Ilha de Man, Cornualha e Bretanha, que usavam as formas tradicionais de danças e os improvisos dos trovadores. É caracterizada pelo ritmo vigoroso das danças, a utilização de flautas e de rabecas, e o uso de línguas locais nas letras das músicas.

Somente a partir dos anos 1960, com o Movimento Nacional Irlandês, o universo "celta" popularizou-se nos Estados Unidos e marcou o cenário pop das décadas de 60, 70 e 80. Nos anos 1990, explodiu nas paradas mundiais com o New Age e artistas como Enya.

As subdivisões mais comuns são: New Age, Tradicional, Fusion e Folk.

Harpa celta.



Instrumentos

Os instrumentos usados hoje para a execução da música celta são todos modernos, entretanto, existiram instrumentos antigos como a flauta celta, composta de furos exclusivos na frente feita de bambu, e outros como pandeiros feitos com pele de animais. Os instrumentos utilizados para a execução destas músicas são, quase todos, inventados ou transformados no Século XVII e XVIII, devido a dificuldade de manter o controle da nota na flauta original celta (sem chaves para modular as oitavas a flauta exigia certa habilidade do músico e imprecisão de afinação devido ao diâmetro do bambu ser diferenciado), por isso, flauta de bambu foi substituída por outras de melhor material a fim de atingir um padrão de afinação. A música folclórica irlandesa conservou fortes traços da música barroca, onde a "música celta" tem as suas verdadeiras raízes. Além da gaita de fole, flauta, violino, harpa e concertina (conhecidas na maior parte do mundo), ainda existe um importante instrumento de percussão pouco conhecido, chamado bodhrán.

Resquícios Modernos

Os modos e as crenças celtas tiveram um grande impacto na atualidade das regiões em que se encontravam. Conhecimentos sobre a religião pré-cristã ainda são comuns nas regiões que foram habitadas pelos celtas, apesar de agora estarem diminuindo. Adicionalmente, muitos santos não-oficiais são adorados na Escócia, como Saint Brid na Escócia (Brigid, na Irlanda), uma adaptação cristã da deusa de mesmo nome. Vários ritos envolvendo peregrinações a vales e poços considerados sagrados aos quais creditam propriedades curativas têm origem celta.


Fontes: Wikipédia / Historia do Mundo / Druidismo.com / Povos da Antiguidade