Os Guerreiros Celtas
Os Celtas foram povos guerreiros, provavelmente originários do sudoeste da Alemanha, que dominaram grande parte da Europa ao longo de quatro séculos.Após terem invadido a França, a Suíça e as ilhas Britânicas, saquearam Roma em 390 a.C. Mais tarde, ocuparam a Península Ibérica e dirigiram-se para o Oriente e atingiram a Ásia Menor onde fundaram o reino chamado Galácia, tendo alcançado o auge de seu poder por volta do ano 250 a.C.
Como estavam organizados em unidades tribais, sem contar com uma unidade política central, os celtas acabaram por sofrer os efeitos de sua própria expansão territorial e desmembraram-se em vários grupos. A maioria dos que habitavam o continente europeu forma dominados pelos romanos e germanos. Os que habitavam as ilhas britânicas, que não sofreram pressões tão violentas, puderam conservar seus próprios idiomas. Ali subsistem ainda o gaélico, falado em certas pares da Irlanda e da Escócia, e o galês, idioma do País de Gales.
Entre os celtas, poderia até mesmo dizer que a guerra era como um esporte - digamos, o futebol moderno.
Os melhores guerreiros - os mais fortes e habilidosos eram respeitados e admirados, e recebiam o nome de "campeões" tribais.
Seu status elevado lhes trazia riquezas e regalias, como costuma acontecer com os maiores futebolistas de nossos dias.
Os Guerreiros apreciavam festas e bebida. Lutavam com ferocidade mas sem disciplina e foram facilmente conquistados pelos romanos. No entanto, os guerreiros celtas eram terríveis - pelo menos na aparência. Os homens normalmente vestiam toscas de lã, mas, nas batalhas, combatiam nus, usando apenas colares. Seus corpos eram pintados de azul com uma tintura extraída das folhas de uma planta chamada ísatis. Os guerreiros lutavam com espadas, lanças e fundas e protegiam-se com escudos de bronze ou de madeira. Eles avançavam sobre o inimigo a pé, gritando e batendo nos próprios escudos. Alguns sopravam cornetas. Embora fossem combatentes destemidos, os celtas nunca foram um exército eficiente, por causa da indisciplina. Os guerreiros celtas também tinham um muito particular código de honra em combate. Eles consideravam inaceitável, por exemplo, que um só homem fosse atacado por dois inimigos ao mesmo tempo. Como resultado, foram com facilidade batidos pelas altamente disciplinadas e treinadas legiões romanas.
Nas guerras inter-tribais - uma constante na idade do Ferro celta, nos mostram os relatos clássicos e as lendas - as hostes se encaminhavam para o local de batalha com seus estandartes, ruidosas cornetas chamadas carnyx e gritos de guerra e, após grandes provocações, partiam para o enfrentamento.
Os vencedores voltavam para casa com seus troféus - espólios e, em alguns casos, as cabeças dos melhores inimigos derrotados.
Tudo isso pode soar barbárico a princípio, mas os grandes tumultos nos modernos estádios em dias de jogos importantes mostram que, exceção feita às cabeças cortadas, pouco ou nada mudou...
Ou melhor, mudou, sim: para os celtas a guerra era sagrada.
Diversas deidades importantíssimas estão associadas ao ofício do guerreiro: Morríghan, a "Grande Rainha"; Scathach, a sensual instrutora nas artes da guerra; Nuada e sua espada; Lugh e sua lança 'inescapável' - todos esses mitos comprovam a sacralidade da guerra para os celtas.
E, ao contrário do que se pode imaginar, a guerra celta não tinha a função da guerra moderna de aniquilar o inimigo: existia todo um código de honra a ser respeitado em combate - em alguns casos, detectamos até mesmo semelhanças com a nobreza do código de guerra dos tão admirados e respeitados samurais do Japão feudal.
Era considerado extremamente desonroso, por exemplo, atacar um inimigo que já estivesse envolvido em combate com outro guerreiro.
Atacar um inimigo pelas costas era um tabu, e como prova de que para os celtas a guerra não era um surto destrutivo e aniquilador, muitos combates entre tribos rivais sequer chegavam a ocorrer: por acordo entre as tribos, por vezes a luta se restringia a um combate individual entre os dois melhores guerreiros - os campeões tribais: a tribo do vencedor do combate era declarada a vencedora da guerra como um todo, poupando assim dezenas, centenas de vidas, sem deixar de satisfazer a função social da guerra.
Essas nobres regras, contudo, não reduziam a capacidade bélica dos guerreiros celtas.
Quando os romanos e suas bem treinadas legiões invadiram a Gália, depararam-se com uma resistência formidável. Por diversas vezes, a disciplina romana não foi páreo para o poderio bélico dos celtas, que inflingiram às legiões pesadas - e por vezes humilhantes - derrotas.
Foi necessário que Roma aprendesse muito com essas derrotas até desenvolver uma estratégia diferenciada, totalmente adequada ao estilo de guerrear dos celtas, para que Cesar finalmente pudesse derrotá-los na Batalha de Alésia.
A proverbial desunião das tribos celtas, claro, contribuiu para esse fim.
Antes disso, porém, como já mencionado antes, os guerreiros celtas eram admirados por suas habilidades e costumavam ser empregues por outros povos em suas guerras, como mercenários - é o caso dos gaesatae, lanceiros celtas que lutaram ao lado das hostes de outros povos - egípcios, gregos e outros.
Julio Cesar registra que os celtas em guerra se mostravam absolutamente destemidos, sem medo da morte, e atribui essa força aos ensinamentos druídicos sobre a eternidade da alma. Sem temer a morte, os guerreiros celtas eram dados a feitos formidáveis, que sem dúvida lhes rendiam a eternidade através das lendas, poemas e canções que os bardos entoariam pelas gerações seguintes conferindo-lhes, assim, a imortalidade pela virtude, tão desejada pelos povos indo-europeus.
“A coragem pessoal era algo essencial, e o sucesso nas batalhas era uma fonte vital de prestígio, poder e seguidores, e também a riqueza material necessária para mantê-los."(Simon James)
Essa característica pode soar, aos nossos ouvidos modernos, um tanto egoísta, mas suas conseqüências eram interessantes: para preservar seu status e sua posição, os líderes celtas eram dados a grandes demonstrações de generosidade para com seus súditos.
Assim, em troca do apoio que recebia da tribo, um chefe tribal lhes ofereceria proteção e banquetes – um dos pontos focais da sociedade celta. Muitas lendas celtas da Irlanda ecoam os relatos dos escritores clássicos acerca da importância dos banquetes oferecidos pelos chefes celtas da Gália. O poder de um líder era facilmente medido pela riqueza e qualidade do alimento que ele oferecia, e as peças usadas para servir os alimentos, verdadeiras obras de arte, nos dão testemunho da importância dos banquetes como forma de manutenção do prestígio dos nobres e de se fomentar a união da tribo como um todo.
Mas o líder celta – pouco importa se ‘grande rei’ ou chefe tribal – não governava só: a aconselhá-lo na paz e na guerra estava sempre a figura do druida.
Os Celtas não tinham língua escrita. Suas leis, rituais e lendas eram transmitidas oralmente. Línguas célticas sobrevivem em áreas do noroeste da Europa. Na Irlanda e na Escócia, fala-se o goidélico. O gaélico é a forma moderna dessa língua. Outras formas de línguas célticas, chamadas britônicas, são também faladas no País de Gales e na Cornualha, sudoeste da Inglaterra. O bretão, outra língua céltica, é falado na Bretanha, noroeste da França. Os celtas têm um simbolismo fabuloso. Até as batalhas tinham um significado espiritual muito grande. Todo guerreiro celta honrava o código. Não matavam homens desarmados, nem mulheres e crianças. As batalhas que aconteciam em locais pantanosos ou lamacentos tinham um significado espiritual muito grande. Para eles, o pântano ou a lama é o limiar entre dois mundos. A água dessa lama ou pântano também significava pureza e renascimento. Ali eram travadas as batalhas. Atravessar o gué (pântano, lama) era o princípio da evolução. Haviam aqueles que afundavam completamente porque seus atos eram tão sujos como lama, e haviam aqueles que ultrapassavam com a benção dos deuses e seguiam seu caminho rumo a evolução espiritual.
A busca do guerreiro permeia uma série de narrativas celtas. Essa procura, esta busca é, na verdade, uma busca iniciada onde no final encontra-se a verdade dos deuses e a essência do próprio guerreiro.
O grande desafio de todo guerreiro é essa busca, mesmo que ela não tenha fim. A missão era sempre ir além, ultrapassando seus próprios limites e muitas eram as provações na sua caminhada. Outra busca importante para os celtas era a busca do ser amado. Encontrar o ser amado é unir dois fragmentos dispersos no cosmos com a finalidade de criar a união divina e fundamental. Para os celtas eram impostas duras provas na busca da mulher amada. Aquele que vencia essas provas era digno do amor dessa mulher. E isso então, torna essa busca uma iniciação também.
Para o celta, o amor é o seu destino, destino do qual ele não pode fugir, é uma aventura espiritual em busca da transcendência que pode ocorrer nesse plano. Mas mesmo não podendo fugir ao seu destino, não deve-se aceitar nada passivamente. Tem que questionar também, tem que ir em busca, e não ficar esperando passivamente.
Na mitologia celta, essas viagens eram chamadas de Imramma, quando os guerreiros e heróis lançavam-se em barcas em direção ao Outro Mundo em busca da amada, ou mesmo doentes, seguiam sem destino (porque as próprias barcas sabiam onde levá-los), esperando que as deusas os levassem a uma ilha encantada para serem amados e curados por elas.
Ser o melhor dos guerreiros era o ideal dos celtas, mas morrer na batalha rodeado de amigos e centenas de inimigos era a consumação suprema. Este tipo de pensamento para nós Ocidentais é um tanto fanático e paranóico, mas para o povo celta a morte é a causa da vida. A preparação para este momento supremo proporcionava ao soldado celta, desde a sua iniciação, valor e orgulho. Na história de Cú-Chulainn, o Deus Sol se materializa para assumir as funções de guerreiro que, após morrer durante três dias, continua mortal. Neste estado de bardo, pode ascender em direção a três mundos místicos celtas: ao corpo terrestre, ao espírito físico e ao da radiante luz da alma, no qual o próprio Sol se manifesta.
Esta mutação entre o soldado humano e seu arquétipo do outro mundo é algo comum nos relatos celtas. É também a chave dos mistérios celtas: a fusão do espiritual, do físico e do imaginário.
O mais fascinante e romântico destes heróis do Sol, foi o rei Artur. É bem provável que seu personagem histórico tenha sido um líder militar do século VI. A evocação de Artur em topônimos de toda a Grã-Bretanha é uma amostra da admiração européia por Lugh e outros heróis celtas. Conta-se, que aos sete anos, Merlin deixou os druidas impressionados ao destruir dois dragões que minavam as fundações de um forte real. A transformação deste menino prodígio no profeta e conselheiro do novo arquétipo solar é um tema muito comum.
Os mistérios celtas tomavam forma nos estados intermediários como o crepúsculo, entre a luz e a obscuridade, ou o dia ou a noite, ou o orvalho, que não é nem chuva nem água do mar ou rio, nem água de poço e utilizavam o visco sagrado, que não era planta, nem árvore. A área de fluxo, plena de presságios e de acontecimentos extraordinários, era indeterminada, e o guerreiro podia lutar contra ela pondo em jogo sua vida. Esta maneira de estar vivo, se caracteriza por quatro qualidades. Para ser soldado há que se ter respeito, ter consciência do medo, estar sempre atento e ter confiança em si mesmo. A partir disso, o perigo resumia-se em uma consciência do que se pretende.
A cultura guerreira estava contudo no coração da sociedade celta, como as sagas heróicas de registos antigos da Irlanda. Como resultado parcial das guerras, muitas tribos celtas migraram de uma região da Europa para outra. Desde a sua terra-natal na Europa Central espalharam-se para oeste na França (leste) e ilhas britânicas, para sudoeste em direcção á Ibéria, para sul, em direcção á Itália, estabelecendo-se no Po Valley, e também para a Alemanha, Áustria e Bohemia (posteriormente para os Balcãs e Ásia Menor). Com as expansões tribos antigas tornaram-se celtas, incluindo os Helvetii, na Suíça, os Boii, na Itália, os Averni, na França, os Scordisci, na Sérvia, e os Belgae, a norte da Gália e no sul da Grã-Bretanha em tempos imediatamente pré-romanos.
Em 390 AC, os guerreiros celtas gauleses, liderados por um certo Brennus, invadiram a Itália e conquistaram a própria Roma. Claro que na altura Roma não estava sequer perto de ser um império. É dito que os celtas pilharam a maior parte da cidade e destruíram muitos registos escritos romanos, apagando toda a História da civilização até à data (razão pela qual muita da história romana até aí é meio lendária, pois teve que ser reescrita). Demorou 7 meses para que os celtas deixassem a cidade, e foi só porque se fez um acordo segundo o qual os romanos pagariam um resgate, que não era menos que o peso de Brennus em ouro, que famosamente exclamou “vae victis”, que significa “mágoa aos vencedores”. Instalaram-se então no Po Valley, que se tornou a Gália Cisalpina.
Muitas batalhas entre os celtas e romanos seguiram-se durante o período de La Tène, contudo um evento notável foi sem dúvida a invasão celta à Grécia. Em 279 AC, os celtas invadiram a Grécia até Delphi, o maior altar grego, e saquearam o templo. Regressaram com perdas terríveis, contudo, ao que parece, acabaram por se separar e alguns decidiram atravessar a Anatólia (agora Turquia) e instalar-se como uma espécie de reino em volta da moderna Ankara. Os gregos designaram-nos “galatae”, acabando por ser essa a fonte do nome que foi dado á terra: “Galatia”. São estes os galatianos do Novo Testamento.
Em cerca de 200 AC, os celtas ocuparam uma vasta região da Europa, que atravessava da Holanda e Bélgica às ilhas britânicas e Irlanda, passando pela França, Alemanha, Suíça, à Espanha e pelos Alpes no norte de Itália. Mas mais cedo ou mais tarde a sua expansão foi interrompida pelos romanos, que depois começaram a atacar os celtas na Espanha (os celtiberos).
Durante os três últimos séculos AC a expansão romana foi gradualmente subjugando todo o mundo celta continental, exceto nas zonas do Reno e do Danúbio, que foram cedo invadidas por um novo grupo de bárbaros: os germanos. Em 58 AC, o bem conhecido Júlio César começou a sua conquista na Gália (nome dado pelos romanos aos territórios celtas na França, Alemanha e norte de Itália), já tendo começado a conquistar os celtas do norte de Itália, por batalhas que ficaram conhecidas como as Guerras Gaulesas. Estas terminaram numa total derrota dos celtas gauleses, assim como das tribos belgas, que possivelmente tinham tanto origem celta como germânica. A guerra teve o seu auge na batalha de Alésia, em 52 AC, onde Júlio César derrotou Vercingétorix, um celta que foi um dos primeiros a unir as várias tribos da Gália.
Em 51 AC as Guerras Gaulesas terminaram, assim como o período de La Tène da História celta, começando a romanização das tribos celtas, que extinguiu o estilo de vida e a língua celta, passando-se a falar dialectos latinos ancestrais aos actuais espanhol, francês, português, catalão, etc.
No séc III DC, os celtas do sul da Alemanha foram invadidos pela confederação das tribos germânicas, designados por Alamanni. Desde então passaram-se muitos séculos, com muitas invasões posteriores em terras celtas, contudo a cultura celta nunca foi eliminada da Europa e sem dúvida continuará a prosperar no próximo milénio.
No século 1 a.C., Galia foi invadida pelo imperador Júlio César e incorporada ao Império Romano. A Grã Bretanha foi rebatizada com o nome de Britania. Os celtas formavam uma sociedade militar governada por valentes reis e rainhas guerreiros. Além de magníficos guerreiros, os celtas foram excelentes camponeses. Basearam sua economia num amplo comércio a aprenderam de gregos e romanos como cunhar moedas.
Todo este tempo, a Irlanda celta, livre de qualquer intento invasor, tinha desfrutado de uma paz e independência quase absolutas. Como resultado deste clima de tranqüilidade, sua cultura, tradições e língua (que os lingüistas chamam "goidelic") e que em sua forma moderna se conhece como "gaélico", puderam sobreviver muito mais tempo que em qualquer outro lugar do mundo celta. Na verdade, a ordem social da Irlanda permaneceu virtualmente intacta até muito depois de a ilha se ter convertido oficialmente ao cristianismo. Por esta razão, a mitologia irlandesa tem conservado sua cultura melhor que qualquer outra mitologia celta.
Yggdrasil ou Ygdrasill, era uma grande árvore (um freixo) que, na mitologia escandinava, representava o eixo do mundo. Nas suas raízes, que se espalhavam pelos Nove Mundos, cujas mais profundas estão situadas em Nifheim, ficavam os mundos subterrâneos, habitados por povos hostis. O tronco era Midgard, o mundo material dos homens; a parte mais alta, que se dizia tocar o Sol e a Lua, chamava-se Asgard "A Cidade Dourada", a terra dos Deuses, e Valhala ("O Salão dos Mortos"), local onde os guerreiros eram recebidos após terem morrido, com honra, durante as batalhas.
BENÇÃO CELTA
No dia que o peso apoderar-se dos teus ombros, e tropeçares, que a argila dance, para equilibrar-te!
E, quando teus olhos congelarem, por trás da janela cinzenta,
E o fantasma da perda chegar a ti...
Que um bando de cores, índigo, vermelho, verde
E azul celeste, venha despertar em ti,
Uma brisa de alegria.
Quando a vela se apagar no barquinho do pensamento,
e uma sensação de escuro estiver sobre ti,
que surja para ti, uma trilha de luar amarelo,
para levar-te a salvo pra casa.
Que o alimento da terra seja teu!
Que a claridade da luz te ilumine!
Que a fluidez do oceano te inunde!
Que a proteção dos antepassados,
esteja com você!
E assim...
que um vento teça essas palavras de amor á tua volta,
num invisível manto, para zelar por tua vida, onde estiveres.
Que assim seja!!
E assim se faça.
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