Charis D'Cruz: O Culto ao Terror e as Tribos

abril 01, 2018 , , 0 Comments

O Culto ao Terror e as Tribos


Com o avanço da tecnologia, as pessoas, inclusive as crianças, tendem a não temer mais nada do que lhes é falado.
Se é contado uma lenda urbana para uma criança ela imediatamente lhe responde seguramente que é mentira, ou então vai na internet pesquisar se é verdade de fato.

Antes de todos estarem conectados, antes desta enorme facilidade de acesso a rede de internet, antes de crianças que mal nascem e já estão com celulares, tablets, computadores, etc, a disposição, tudo isso começando pós anos 90 eu diria, nós possuíamos um culto ao terror. O terror era usado como meio de educar os filhos. Se a criança era abusada, teimosa, fazia o que era proibido ou o que não devia, era lhe dito um conto assustador e ele por medo não tornava mais a fazer aquilo.


Não era um tempo onde todos estavam conectados e as noticias mundiais estavam em acesso em minutos. Eramos pequenos grupos, tribos, comunidades que difundíamos nossas lendas e folclores. Não havia como saber o que era verdade ou não. A difusão se espalhava por comunicação verbal, de boca em boca, o que causava distorções e variações nas histórias.

Isto era ainda mais significativo em interiores onde as pessoas se encontravam em locais distantes e isolados, cercados por matos, escuridão, silêncio e nada.

Ficávamos com frio na barriga, um pavor nos tomava conta, ficávamos paralisados, arrepiava-nos inteiros. Podia ser algo ruim, mas era bom! O medo era cativante. Na infância sua proporção e importância é ainda maior. Nós assustávamos um aos outros quando crianças e ficávamos com medo juntos. Era algo extremamente bom e inexplicável. Não é algo que se diz, mas que se vive. E quem vivia, contava com orgulho aos outros e em especial aos filhos, pois queriam que eles tivessem a experiência que tiveram.

Assim nós passávamos a diante para a próxima geração o que nos era ensinado. Isto era uma forma de criação de cultura. Pequenas comunidades tribais criavam lendas que geravam o nosso folclore, o mito popular, o que nos unia como povo e formava nossa cultura. Mas hoje isto tornou-se extinto.
Algo tão belo e primordial foi exterminado pela tecnologia e globalização.

As mães atuais não gostam que assustem seus filhos. Os pais não gostam que deixem seus filhos com medo. Se alguém lhes coloca medo, imediatamente os pais dizem que é mentira, que essas coisa não existem, que só querem assusta-los, etc. A desculpa deles é que as crianças crescerão com medo, o que de fato é uma mentira! Incontáveis pessoas cresceram ouvindo histórias de terror, lendas urbanas, foram educados através do terror, e não se tornaram adultos assustados, mas sim educados. A partir da adolescência a pessoa já vai se tomando conta da verdade. Este processo é algo natural e que acontece espontaneamente com o passar do tempo, e isto destrói completamente tal falacia. Devido a este pecado dos pais modernos, hordas de crianças mimadas e indisciplinadas surgem.

O culto ao terror precisa se restabelecido. Talvez, se preciso, adaptado. Mas jamais esquecido!

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