O Homem e a Morte: Kamikaze - Parte 14


Introdução

Kamikaze ( 神風) do japonês "kami" (deus) e "kaze" (vento), significa "vento divino" e é uma alusão a tempestade que salvou o Japão do ataque mongol em 1274. Os kamikazes eram os pilotos de aviões japoneses carregados de explosivos cuja missão era realizar ataques suicidas contra navios dos Aliados nos momentos finais da campanha do Pacífico na Segunda Guerra Mundial. O nome oficial dos kamikazes era Tokubetsu Kōgekitai (Unidade de Ataque Especial), também conhecidos pela abreviação Tokkōtai ou Tokkō. As unidades da marinha eram chamadas de Shinpu Tokubetsu Kõgekitai (Unidade de Ataque Especial Vento Divino).

Cerca de 2.525 pilotos morreram nesses ataques, causando a morte de 7 mil soldados aliados e deixando mais de 4 mil feridos. O número de navios afundados é controverso. Na época o Japão divulgava que os ataques conseguiram afundar 81 navios e danificar outros 195.


História

Em 19 de outubro de 1944, o vice-almirante Takijiro Onishi convocou uma reunião formal com vários oficiais e apresentou-lhes seus planos, defendendo o que considerava a única forma pelo qual um pequeno contingente pudesse atacar com grande eficácia, organizando ataques suicidas com os caças Mitsubishi A6M Zero armados com 250 kg de bombas para atacar porta-aviões inimigos.

Foram então recrutados estudantes de universidade para serem os pilotos kamikazes. A decisão de se tornar um kamikaze era voluntária. Quem desejava se voluntariar dava um passo a frente no dia em que os soldados eram chamados para anunciar se queriam ser voluntários. Houve voluntários em massa para serem kamikazes.

Eram dados ao kamikazes instruções de como procederem, como por exemplo, durante o momento de mergulho com o avião eles não deveriam fechar os olhos, pois poderiam errar o alvo e outras coisas.

No dia do voo fatal eles escreviam poemas - tradição originada dos samurais que o faziam antes de cometer seppuku -, ganhavam um brinde de saquê, levavam a bandeira imperial, amarravam a hachimaki na testa e levavam uma katana, como seu simbolo espiritual e de seus antepassados, e uma pistola nambu para o caso de fracassarem ou fossem capturados e poderem se matar.

Além do modelo Mitsubishi A6M Zero, outros aviões foram usados. Algumas vezes obtinham ajuda de escoltas regulares, mas geralmente tinham de enfrentar os caças estadunidenses que detectavam seus aviões pelo radar, e tentavam resistir até poder colidir no convés de um navio.

Os nomes das quatro subunidades da Força de Ataque Especial Kamikaze eram Unidade Shikishima, Unidade Yamato, Unidade Asahi e Unidade Yamazakura. Esses nomes foram tirados de um poema de morte patriótico, "Shikishima no Yamato-gokoro wo hito towaba, asahi ni niou yamazakura bana", do erudito clássico japonês Motoori Norinaga. O poema diz:

"Se alguém perguntar sobre o espírito Yamato [Espírito do Antigo/Verdadeiro Japão] de Shikishima [um nome poético para o Japão] - são as flores de yamazakura [flor de cerejeira da montanha] que são perfumadas no Asahi [sol nascente]."


Uma tradução menos literal  é:

"Questionado sobre a alma do Japão,

eu diria

que é

como flores de cerejeira selvagens

Brilhando ao sol da manhã."


Ōnishi, dirigindo-se a esta unidade, disse-lhes que sua nobreza de espírito impediria a ruína da pátria, mesmo na derrota.


Honra

Havia um culto à morte no Japão. Os diários dos pilotos incluíam relatos e testamentos demonstrando o espírito japonês, a devoção pelo imperador e poemas de morte mencionando a sakura (flor da cerejeira), símbolo nacional. Era uma honra morrer pelo Japão e pelo Imperador. Um lema que prevalecia entre eles era "antes a morte do que a rendição!".

Os soldados japoneses buscavam a morte. Eles queriam se tornar eirei, ou seja, espíritos guardiões do país, segundo a crença shintoista. E ser sagrado em Yasukuni era uma honra especial porque o imperador visitava o santuário para homenageá-lo duas vezes por ano. Yasukuni é o único santuário que diviniza os homens comuns que o imperador visitaria para prestar seus respeitos. 

Kiyu Ishikawa, um piloto kamikaze, salvou um navio japonês ao bater seu avião contra um torpedo lançado por um submarino americano, e foi promovido postumamente de sargento-mor para segundo-tenente pelo imperador e foi consagrado em Yasukuni.

Histórias como essa encorajaram jovens japoneses a se voluntariarem para o Corpo de Ataque Especial e despertaram nos jovens o desejo de morrer como kamikaze.


Momento finais

Cerimônias foram realizadas antes que os pilotos kamikaze partissem em sua missão final. Os kamikaze compartilhavam xícaras cerimoniais de saquê ou água conhecidas como mizu no sakazuki

Como todos os militares do Exército e da Marinha, os kamikaze usavam seu senninbari, um "cinto de mil pontos" dado a eles por suas mães. Os pilotos carregavam as orações de suas famílias e recebiam condecorações militares. Os kamikaze foram escoltados por outros pilotos cuja função era protegê-los a caminho de seu destino e relatar os resultados. Alguns desses pilotos de escolta, como o piloto Zero Toshimitsu Imaizumi, foram posteriormente enviados em suas próprias missões kamikaze.

Diz-se que os jovens pilotos em missões kamikaze costumavam voar para o sudoeste do Japão sobre o Monte Kaimon de 922 m (3.025 pés). A montanha também é chamada de "Satsuma Fuji" (que significa uma montanha como o Monte Fuji, mas localizada na região da província de Satsuma). Pilotos de missões suicidas olharam por cima dos ombros para ver a montanha, a mais ao sul do continente japonês, despedir-se de seu país e saudar a montanha. Residentes na Ilha Kikaishima, a leste de Amami Ōshima, dizem que pilotos de unidades de missões suicidas jogaram flores no ar enquanto partiam para suas missões finais.

Os pilotos kamikaze que não conseguiram completar suas missões (por causa de falha mecânica, interceptação, etc.) foram estigmatizados nos anos seguintes à guerra.

Kamikazes sobreviventes e pilotos de escolta revelaram em entrevista que eles foram motivados pelo desejo de proteger suas famílias de atrocidades percebidas e possível extinção nas mãos dos Aliados. Eles se viam como a última defesa.


Texto por: Charis D'Cruz

06/09/2020

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