O Homem e a Morte: Dança Macabra - Parte 20

março 20, 2021 , , , 2 Comments

Bernt Notke: Surmatants (Totentanz) da Igreja de São Nicolau, Tallinn, final do século XV (hoje no Museu de Arte da Estônia).


A Dança Macabra (em francês "Danse Macabre", em alemão "Totentanz"), também chamada de Dança da Morte, é uma alegoria artístico-literária do final da Idade Média sobre a universalidade da morte, que expressa a ideia de que não importa a posição de cada um na vida, seja rico ou pobre, rei ou camponês, velho ou jovem, a dança da morte une a todos.

Danse Macabre consiste na personificação da Morte convocando representantes de todas as esferas da vida para dançar até o túmulo. Normalmente são representados um Papa, um Imperador, um Rei, um monge, um jovem, um trabalhador e uma bela mulher, todos com seus respectivos esqueletos ao seu lado segurando suas mãos. Ela foi produzida como memento mori para lembrar às pessoas a fragilidade de suas vidas e quão vãs eram as glórias da vida terrena.


Estas representações foram produzidas sob o impacto da Peste Negra (1348), que avivou nas pessoas a noção do quão frágeis e efêmeras eram as suas vidas e quão vãs eram as glórias terrenas. A possibilidade onipresente de morte súbita e dolorosa aumentou o desejo religioso de penitência das pessoas.

Diálogos em versos curtos entre a Morte e cada uma de suas vítimas, que poderiam ser representados como peças, podem ser encontrados logo após a Peste Negra na Alemanha e na Espanha (onde era conhecida como Totentanz e la Danza de la Muerte, respectivamente). No primeiro livro de Totentanz didático impresso (Vierzeiliger oberdeutscher Totentanz, Heidelberger Blockbuch, c. 1460), por exemplo, a Morte aborda o imperador dizendo:


Imperador, sua espada não o ajudará

Cetro e coroa não valem nada aqui

Eu peguei você pela mão

Pois você deve vir para a minha dança


Na extremidade inferior do Totentanz, a Morte chama o camponês para dançar, e ele responde:


Eu tive que trabalhar muito e muito duro

O suor estava escorrendo pela minha pele

Eu gostaria de escapar da morte mesmo assim

Mas aqui não terei sorte


As danças macabras são geralmente pintadas nas paredes externas de claustros, valas comuns, ossários e mais comummente em igrejas. O número de personagens na dança varia de acordo com a obra. A dança da morte normalmente assume a forma de uma farândola - uma dança de origem provençal em que os pares, segurando-se pelas mãos, formam extensa fila que se movimenta de maneira agitada.

A danse macabre servia para fazer as pessoas não esquecerem do fim de todas as coisas terrenas, do destino dos mortais. A igreja buscava transformar o pensamentos dos homens em uma preparação cristã para morte. As lições de mortalidade eram transmitidas para as pessoas de cada posição.

Jean de Vauzèle, o prior de Montrosier, no prefácio de uma edição da obra Dança da Morte de Hans Holbein, o Jovem, escreve:

"Et pourtant qu'on n'a peu trouver chose plus approchante a la similitude de Mort, que la personne morte, on d'icelle effigie simulachres, & faces de Mort, pour en nos pensees imprimer la memoire de Mort plus au vis, que ne pourroient toutes les rhetoriques descriptiones de orateurs." (E, no entanto, não podemos descobrir nada mais próximo da semelhança da Morte do que os próprios mortos, de onde vêm essas efígies simuladas e imagens dos assuntos da Morte, que imprimem a memória da Morte com mais força do que todas as descrições retóricas dos oradores poderiam.)


Origem

Acredita-se que a Danse Macabre surgiu no século 14 e alguns estudiosos pensam que se originou na França, estando relacionada a peças teatrais que dramatizavam a ideia da Morte. Um afresco pintado em 1424 no Cimitière des Innocents, em Paris, uma das representações artísticas mais importantes de uma Danse Macabre, é considerado por alguns estudiosos como o ponto de partida desta tradição. Ela era acompanhada por versos sobre o tema. Guyoyt Marchant incorporou gravuras inspiradas no afresco do Cemitério - que foi destruído no século  1669, nos deixando sem registros - na primeira edição do poema anónimo La Danse Macabre que publicou em 1485.


Uma das imagens presentes no livro de Guyot Marchant.


Uma outra hipótese para a origem do tema da Dança Macabra é um poema do convento dominicano de Wurzburgo, na Alemanha, de cerca de 1350.

2 comentários:

  1. Boa tarde Charis. Eu gostaria de sua autorização para postar as frases do livro o código alfa em um blog. Pois eu percebi que poucos homens conhecem aquele livro. Eu coloco os devidos créditos a você. Obrigado.

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    1. Pode postar sem problemas. Se quiser deixa o link do blog....

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