O Homem e a Morte: O Sétimo Selo - Parte 13

dezembro 26, 2020 , , 0 Comments


Det sjunde inseglet, em português "O Sétimo Selo" é um filme sueco de 1956 que conta sobre um cavaleiro que após retornar das Cruzadas encontra a Morte. O cavaleiro, chamado Antonius Block, propõe a Morte que joguem uma partida de xadrez e se ele vencer a Morte lhe dará mais tempo, mas se perder ele irá com a Morte.

Nunca um personagem me representou tão bem quanto Antonious. No início, ele se encontra com um padre em um confessionário e lhe revela seu tormento. O padre pergunta: "Ainda assim você não quer morrer?" ao que ele responde "Sim, eu quero!". Então, o padre diz: "E o que está esperando?", e Antonious responde "Conhecimento!". O cavaleiro desejava ganhar mais algum tempo, pois queria conhecimento, ele queria a verdade. Ele questiona: "Porque Deus tem que se esconder em uma neblina de promessas e milagres invisíveis? O que seria dos que queriam acreditar, mas não podiam? E quanto aos que não irão acreditar?" E diz ao padre: "Eu quero conhecimento, não fé, presunções ou obediência cegas. Quero que Deus estenda as mãos para mim, que mostre seu rosto, que fale comigo!". O padre continua "mas ele fica em silêncio...", o cavaleiro prossegue "Eu o chamo no escuro, mas parece que ninguém me ouve", o homem santo retruca "talvez não haja ninguém para responder", desconsolado Antonious diz "Se for verdade, a vida não significa nada... Alguém consegue viver essa vida sem achar que será recompensado no final?", o padre consola "a maior parte da humanidade nunca pensa no lado ruim", porém o cavaleiro sabia a verdade "mas um dia na vida terão de olhar para a escuridão", e o padre a confirma "Sim... um dia terão". Após este dialogo Antonious descobre que o padre era na verdade a própria Morte!

Eu sempre vi em filmes cenas semelhantes. Homens com grandes questões se confessando para um padre que lhes dirige palavras de sabedoria, lhes iluminam, e muitas vezes os guiam. Contudo, eu jamais tive alguém inteligente e espiritualizado para ter uma conversa assim. Eu sempre estive rodeado de pessoas medíocres que só pensam no agora, que só pensam em curtir a vida, curtir o momento, e não estão nem um pouco preocupadas com grandes questões, com o que realmente importa. Eu já vi até mesmo vários que nunca pensaram na morte ou no que há, ou se há algo, depois dela. O mais perto que cheguei disto foi com o padre da minha igreja - que era meu padrinho -. Lembro que enquanto acontecia a missa eu gostava de ficar no fundo da igreja vendo aquela paisagem e aquele belo por do sol que só tinha ali. Eu ficava ali até o anoitecer meditando, apreciando, refletindo. Aquilo me dava uma paz de espirito incrível. Em um desses dias, quando eu era criança, eu estava sentado, meu padrinho apareceu e sentou-se comigo, pois ainda faltava tempo para a missa começar. Olhando aquele entardecer, que mais parecia uma pintura, era como se Deus estivesse naquele lugar. Ficamos parados, em silêncio, admirando e aproveitando o momento. Completamente imerso em reflexão perguntei ao meu padrinho se ele achava que estávamos sós no universo. Com seu tom dócil e amoroso ele disse-me que se Deus havia nos criado, então por que não poderia ter criado outros seres? Tive algumas outras oportunidades, embora bem poucas, de falar-lhe, e ele era muito sábio, mas o mais importante e notável era sua compaixão, sua ternura. Parecia que qualquer pergunta ou resposta não era nada diante do seu amor. Parecia que no fim, a resposta era justamente está... Não importava quais perguntas me afligissem, mesmo que ele não tivesse resposta, sua ternura já aliava meu sofrimento. Contudo, ele já se foi.

Antonious precisava continuar jogando com a Morte de tempos em tempos e ganhar dela para continuar a viver. No momento que ele perdesse, ele iria ser levado.

O cavaleiro tenta obter as respostas da qual necessita antes que seu tempo se acabe. Ele observa as situações da vida e reflete sobre. Uma vez ele chega a comentar com Mia, uma mulher que ele conheceu em seu percurso: "A fé é uma aflição terrível. É como amar alguém que está no escuro e não aparece quando se chama".

Antonious não tem medo da morte, mas ele quer encontrar as respostas que procura antes de partir. O mesmo se dá comigo. Eu necessito encontrar as respostas, a verdade, só assim me sentirei livre para ir.

Em um momento de sua caminhada ele encontra uma mulher que vai ser queimada, pois é dito que ela esteve com o diabo. Ele se dirige a mulher e pergunta se era verdade que ela esteve com o diabo. A mulher pergunta o porquê ele quer saber. O cavaleiro então responde que quer encontra-lo também. Curiosa, ela pergunta por qual motivo, e ele diz: "Quero perguntar a ele sobre Deus! Ele deve conhece-lo melhor do que qualquer um". A mulher resolve mostre-lhe o diabo e manda que ele a olhe nos olhos. Ela pergunta em seguida: "O que você está vendo? Você o vê?", mas o cavaleiro responde "Tudo que consigo ver é terror. Nada mais.". Assim, a mulher encontra seu fim e ele se vê sem sua resposta.

Em uma partida com a Morte, ele perde finalmente, mas a Morte lhe concede mais algum tempo. Porém, ela fala que da próxima vez que se encontrassem, iria leva-lo. Antonious pergunta se ela irá lhe revelar seus segredos. A Morte responde que não tem segredos. Desconsolado, o cavaleiro pergunta "Quer dizer que você não sabe de nada?", mas a Morte a isso não responde e se irrita - isso dá a entender que nem mesmo ela sabe de nada.

Quando eles se encontram novamente o cavaleiro reza a Deus para que tenha misericórdia deles, pois somos pequenos e assustados em nossa ignorância. Seu escudeiro, vendo também a Morte na sua frente, lhe diz que em sua alegada escuridão, onde deveriam todos estar, não havia ninguém para ouvir suas lamentações e sofrimentos. E que ele tentasse enxugar suas lágrimas e ver a indiferença dele - da Morte -. Porém, o cavaleiro, que ainda não havia encontrado o que procurava, continua a suplicar ao Senhor. Seu bravo escudeiro corajosamente encarando a Morte diz que agora era tarde e que neste último momento Antonious deveria pelo menos sentir o triunfo de enfrentar o medo, fechar a boca, e abrir os olhos.

E assim, tudo se acaba. E assim, todos eles entram na Dança da Morte.

Eu temo que eu tenha o mesmo fim de Antonious. Que assim como ele eu não encontre as respostas.

Texto por: Charis D'Cruz
26/07/2020

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